canção da mulher madura

Canção da mulher madura

conto-vos que um dia amanheci madura e larguei minha aliança
por sobre uns papéis,como nada fosse
ela quedou-se por lá,nua de mim,em tantos anos de casamento
fiz,para que ele soubesse e visse
e ficasse a ver navios
de velas
era a luz que me faltava
a sereia canta,é hora do meu rito
do funeral da desprovida
minha viagem é para outro tempo
quero que te lembres de mim
por isso te deixo a louça suja
a roupa no varal,que nunca foram plenas de mim
eu que era a desinteira
espectro de saltos
deixo também o pó cobrindo
lágrimas
a cama sem fazer
o amor sem fazer
esqueço -me do teu olhar baço
feito de névoas
querias a moça e me achavas velha
pensavas no seio duro da vizinha
na pele macia,de perfume doce
na coxa dura que comias e lambias toda
a flor da outra,mais fresca
eu sei que davas teu sexo grosso para
bocas novatas
ele voltava imerso em vapores
e comigo,vinhas ausente
doente
incapaz quase
e eu capaz de aceitar
afinal a vida estava já quase vivida
não imagines,nada de quimeras....
conto-vos que numa noite
nas ruas escuras
mas tinha lua
um uivo eu escutei
gelou meu calor todo
no passo apressado
não me dei conta da pedra
e lá fui ao chão
e o lobo me cercou
cheirou-me,afagou-me
lambeu meu rosto e matou a sede no meu seio
exangue,me entreguei,morresse alí em presas assim
mas era para viver e me dar
era uma festa
em mim,penetrou em todas as frestas
e eu lhe arranquei os pêlos
a lua se foi
na clareira do parque eu fui parida em loba
quero você na matilha
e na moto montou o lobo....conto-vos
que acordei madura
na pele de loba
da casa levo pouco, o muito que sou
dele,esqueço o nome
não sei o que houve
nem com ele me casei...
desta vida me cansei...

maria lucia
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