O que me é permitido senão regar as rosas e seguir
Seguir entre mouros e trovões
Ver a tempestade ruir e desabar os sonhos d’areia
e existir entre o siso e o lábio pranto
e desistir? Nunca! do amor profanado pelos cantos
e subir escada lume
na rosa florescida de perfume
e ver a vista toda erva pura
ilustrada pela aragem pluma
e no paladar da noite escura
estalar a língua de uvas puras
a viagem essa que me permito desfrutar na fruta
na caldeira
no fogo quente
que me reserva mais a vida?
que mais quero?
se já tenho tudo...
tenho amigos que são meu ouro
tenho a cama pra deitar meu longo corpo
a brisa pra afugentar a cisma
o coração pra abençoar meu povo
que mais quero eu da vida?
Se tenho filha, família, amores...
Calça pra vestir
Uma borracha pra apagar os riscos duros
A mansuetude da oração
Os olhos pra ver imagens reais e irreais
Não quero mais nada dessa vida, a não ser viver nas rosas
Colher amores na chuva
Sorrir ao montes
E escrever o que me sobra em fala
E assim quando a morte me rondar, me levará livre e bonita
Pra quem sabe voltar ainda mais florida...
 
 
Letras de Sole Mazzeto