Se eu pudesse...

Se eu pudesse queixar-me e soubesse deixar correr a minha loucura!
Se eu pudesse contar a toda a gente que agora é tempo de solidão! 
Se eu pudesse descrever a minha guerra fechada e soubesse imitar o som do meu silêncio dorido...
Se eu pudesse deixar fugir qualquer som: um ai, um gemido, 
onde soubesse afogar minha angústia no espaço!
Se eu pudesse sorver golfadas de ar e soubesse caminhar,
caminhar até ao auge do cansaço! 
Se eu pudesse destruir o tempo incerto, os sonhos pisados, 
os pesadelos guardados, os cacos escondidos no meu sorriso desnorteado....
Se eu pudesse transpirar num respirar profundo o descontrolado que é a existência no mundo... 
Se eu soubesse fugir, correr à toa e partir-me, destroçar-me, esconder-me e perder-me para voltar a encontrar-me reconstruída... 
Se eu pudesse arrancar do peito esta ferida que doí e que calo, 
que consinto e que guardo, que preciso extrair assim com força e raiva de dentro de mim.....
Se eu soubesse como curar tamanha ferida, eu corria, saltava, gritava, fugia, chorava, ria, gemia, lutava, andava ou parava..... e morria ou vivia!!!!!!

Porque entre rosas e espinhos eu subexisto...