Ah! manda do céu vir a chuva envolver como luva a menina que canta; chuva que leva o que contamina e que espanta a superficialidade, pra deixar só o que encanta e fascina: a verdade do verso preciso, na medida certa da menina poeta sem juízo...

Ah! manda rios de inspiração pra embalar a canção em que a menina navega, cega às impossibilidades, focalizando a profundidade cristalina da poesia fluvial: "marinheira, marinheira, quem te ensinou um verso tal?", e flutua ligeira a sua canoa, à toa, longe das margens, recolhendo as imagens que só com ousadia tamanha se percebe lá na entranha do rio da poesia...

Ah! manda neves coloridas (são muitos tons de branco!) pra menina brincar: caindo de leve os flocos pelos flancos, cobrindo as esquinas, os barrancos, a vida; pintando tudo de uma preguiça branca; porque se o mundo enguiça e descansa, a pá pequenina do verso dela arranca das neves um poema profundo e breve, uma rima bela e serena (branca? amarela? morena? depende...), e a menina se rende às neves e escreve...

Ah! manda dos versos fluir a torrente incessante que seu traço comovente inspira. Manda a lira devolver o abraço confortante que o poema dela comunica. E se me fica na pena ainda uma gota da chuva, dos rios, das neves, possa minha rota canção enxaguar-lhe o coração, exaltar-lhe a maestria, e, quem sabe, dar-lhe sede de poesia...