ele/ela

 
            O menino entra e percebe que ela ainda estava lá, se olhando no espelho, se maquilando, se penteando, esperneando, o quarto todo bagunçado cheio de roupas na cama retratava justamente ela por completo, afobada, descontente e indecisa:
-         Ai que roupa eu ponho?
Preocupada, irritante, encrenqueira, que menina chata ele falava.
            -    E ai peste essa roupa esta boa?
-         É está, mas depende de onde você vai, aliás com quem você vai?
-         Ah eu vou com... E eu te devo satisfação, pra que to te perguntando isso?
-         Porque você sempre me pergunta tudo
-         Claro você ta sempre enfurnado na minha casa, aliás na minha vida
-         E você sinceramente acha que venho aqui pra te ver?
-         Claro.
-    Que convencida, venho ver seu irmão, que por sinal é muito diferente de você
-    Ainda bem. Mas diga cabelo preso ou solto?
O garoto sorriu sem perceber que ela tentava impressiona-lo, ainda mais porque já estava totalmente impressionado e no fundo ele sabia que a achava  linda e adorava o jeito implicante de ser e quando ela brigava com ele e vice-versa.
-         Que ce ta olhando?
-         Nada só sua cara feia.
-         Bobo
Ironizando a menina joga a almofada colorida no menino. A garota continua na frente do espelho, desta vez o que lhe tomava paciência era o batom.
-         Pra que você se arruma tanto?
-         Pra ser menos feia.
-         Mas isso é impossível
-         Engraçadinho.
          A pergunta não era bem essa:
            -    Pra quem você se arruma tanto?
-         Hum? A sei lá, pra mim mesma, porque?
-         Por nada.Ta borrado.
-         Que?
-         O batom.
-         Onde?
-         Aqui.
O rapaz chegou perto, colocando o dedo próximo ao lábio da menina, e tentando concertar o borrado de batom. A menina ficou nervosa de repente, não falava nada, parece que o rapaz havia chegado perto demais.
-         Nossa que perfume bom: pensava a menina
-         Ela nem é tão chata assim: falava o garoto em pensamento
Nada menos do esperado, um clássico beijo para encerrar a história, mas precisamente para começar a história, na verdade nem era tão clássico assim, era um beijo confuso, aliviado, gostoso. E o batom? Bom agora estava mesmo todo borrado.