Sente a iminência solene, pairando imensa e perene na dimensão poética, rufando tambores irreverentes no coração de quem sintoniza a paixão e as dores e os amores e a desilusão e a brisa e o furacão (quem sabe ler a emoção):

-Todo poema está prestes a acontecer!

Seja qual for o tema de que se reveste, o amor está sempre pra nascer; está por um triz: basta um poeta feliz, agraciado por sei-lá-quem, achar debaixo do seu nariz, refugiado, o verso neném, recém chegado, sem ambiente, e o poeta parturiente lhe abraçar, lhe conduzir, lhe pôr nos trilhos, lhe polir, lhe dar um brilho, lhe adotar, lhe chamar de filho, e pronto: nasce a poesia, revive o conto, está entre nós! Todo dia é dia de dar-lhe voz, moldar-lhe a forma: lento, veloz, contido, sem norma, sangrento, sofrido; o vate o transforma em arte de verso diverso; o poeta une os versos e fecunda a poesia profunda e completa.

-Acontece em toda parte, a todo instante!

Emocionante como seja o nascimento de uma criança, também o poema carrega a esperança e o alento de uma nova chance, um novo começo; quem mede seu alcance? quem calcula seu preço? quem impede seu avanço? ou estimula seu descanso? seu silêncio?

-A poesia é uma força da natureza!

Em sua beleza e monotonia, reina suprema e sem rival: todo poema é natural e simplesmente miraculoso, comovente, espantoso, surreal. A dimensão superior usa a poesia pra falar de amor; e o escritor é o canal, é a via; e, acredite! (quem diria?): o limite é o Universo!

-E a poesia é um milagre a cada verso!