O amor indiscriminado

O amor indiscriminado é como as estrelas, como os corais,
Como o amor das algas, já dizia chiang Sing,
São como as cores, os sons, e as ondas do mar do sol,
O amor indiscriminado, em sua falta de identidade,
Ama indiscriminadamente, a todos, por igual.
 
Existe alguma baixeza, nisso? Algo inferior ou desarmônico?
Algo bestial, ou transversal?
São teus olhos, consciências, que ainda não chegaste lá, e talvez não chegará.
 
Quem poderá considerar a força das águas, do mar, do arco-íris?
Quais são os planetas, a não ser energias em potencial?
Quais são os meteoros, os loucos, o acaso, o ébrio, o abismo e a fossa abissal?
E estas nuvens de gafanhotos, que se transformam em batatas fritas, num contexto de fome e de miséria?
Todas essas energias coletivas, que dilaceram a terra, numa verdadeira indústria, numa antropofagia inconsciente,
Em que beneficiamos o pó da terra, como se fosse a cousa mais importante do mundo?
 
Valha-me o português, para interpretar os sonhos do homem, e da mulher.
Para falar do não-mundo, não existem palavras: Só o esquecimento, o dormir e o não-acordar.
 
Esquecer-me de mim, de ti, a separação, o vazio, o isolamento voluntário, a imensidão do mar.
 
Entre eu e você, o espaço sideral.
 
Ficarás, assim, como estrela da vida inteira, a maneira de Manuel Bandeira,
No espaço entre o apartamento e a queda, com Ana Cristina Cezar,
De cataclismos em cataclismos, encontramos a Indonésia, o Ceilão, os Mestres e seus guardiões.
 
Encontramos o Brasil, como flor de lótus do Egito e da Índia, como rosa musgosa, alcachofra, flor de cravo português.
 
De ti, guardarei as pétalas, desprezadas, da rosa que teima em resistir, num copo d’água,
Num apartamento qualquer, no Rio de Janeiro, ou em Maceió, ou em Montevidéu,
São Paulo, eu estou lá.
 
De mim, não esperes passado, tradição, memória.
 
Esperes, apenas, um adeus, numa estação de estrada de ferro, em Kentucky.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

O esquecimento, em outras versões.

Bagé, 5 de janeiro de 2007