O corpo do vento
não está para a velhice.
E sua pele invisível,
por mais se que gaste
nas tormentas, falésias,
se renova, se basta.
Essa silhueta indizível
se constrói pelo que toca.
Brinca nos cabelos das árvores,
na sombra fria e dançante
das roupas do varal.
É possível ser intenso,
suspendendo os telhados,
descompondo as casas
que por azar não sabem voar.
É provável que derrube
os ninhos mal-acabados
de amores de asas curtas.
Para isso,
há de bem valer a reza.

Santa Bárbara abrandai!

Pela rogativa, serenou
e voltou a mover moinhos.
Pelo destempero, propôs-se
varrer o chão de folhas.
Iria a igreja confessar,
livrar-se do julgo imaturo,
mas no caminho, o desvio,
apanhou uma corrente de ar!
Foi ao sul das terras
onde guerras fervilham
e sentiu-se furar pelas balas.
Nos braços, poeira de estrondo
pairava alvacenta, temerosa.
Era preciso voltar.
Migrar com os dias e as aves.
É certo, todos os dias são
aves de migração
e o tempo, exímio caçador,
as alveja por prazer.
Uma ave solfeja dor, cai,
mais um dia vai no horizonte
e o corpo do vento fica!

Reflexão sobre a passagem do tempo.

São Paulo