Poema para saudar a chuva

Há quanto tempo tu partiste!
Ainda era hora vespertina
De um verão aquoso,
Vagaroso dispersar numa neblina.

Ficaram no teu lugar, entremeados,
Perecedouros raios de sol a pino
E um opaco inverno sulino
E uma lassitude em estágio avançado.

Decerto embrenhaste pelos meridianos,
De tufões e tornados tornaste amante;
Enquanto aqui, já há quase meio ano,
A límpida abóbada denuncia-te distante.

Tu não sabes o quanto confragosos
Têm estado os monumentos e a geografia;
Fauna e flora diáfanas, enquanto em agonia,
Evapora-se o vazante de rios, outrora, caudalosos.

Todavia, depois de quebrar algumas promessas,
A teu modo, hoje derramas em cântaros.
Vês que a natureza regozija em festa?
Dantes exsicadas, as planícies transmutam-se em pântanos.

Há quanta vida e fragrância
E espelho d’água em profusão,
Traze, oh chuva, forte, branda!
Em partículas gotejas a redenção.

29/08/2006