Matemática da voz

E a voz sem palavra
está na boca das coisas.
Sinos, sirenes, sanfonas.
Mas a palavra sem voz
anda a sós com os gestos,
em manifestos mudos de amor.

Na matemática da voz
é que se faz o som.
E quem de nós saberia
tal geografia do dom?

Sei sim das janelas,
sei do gemido delas,
sei que panelas apitam
no fogo que as excitam.

Ronca sim motor cansado
no desmaio proletário.
Perdulário o pernilongo
gasta todo o zumbizado.

E a voz sem ouvido
está no perigo da morte.
Penhasco, palanque, presídio.
Mas o ouvido sem voz
dorme algoz de si mesmo,
ermo, enfermo de silêncio.

Na história da voz
é que se faz história
e quem de nós saberia
tal filosofia assim finória?

Sei sim dos mártires
sei do grito libertário,
sei que a idade dos livros
só contenta o antiquário.

Tomba sim corpo falido
na alcova de redenção.
Quem virá te buscar pelo pé
ou irá te levar pela mão?

E a voz sem ela também é pó.

São Paulo