Grite!...
Até que as manhãs de domingo ressuscitem
Como um guerreiro militar oriental,
Antes do naufrágio da nave cronológica,
Da subversão do Norte (...), da anarquia crônica (...)!

Grite!...
Até que das árvores a seiva goteje,
Submergindo as planícies urbanas (...), os vales (...);
Antes da exaustão das oceânicas fontes,
Da desertificação irremediável!!!

Grite!...
Até que se fragmentem todos os espelhos
Em mil estilhaços, inencontráveis cacos (...);
Antes do irrecuperável eclipse das lâmpadas
Que abortará sem dó a gestativa imagem!

Grite!...
Até que as grades de ferro dos “nãos” inclinem-se
Diante dos “porquês” da igualdade humana,
Antes que os mártires tornem-se mitológicos:
Sem filhos ou viúvas (...), ou até discípulos!

Grite!...
Até que a fome seja um primitivo código,
Limitado às arqueológicas fronteiras,
Antes do genocídio do Capitalismo
Que torna um canibal moderno a sua vítima!!!

Grite!...
Até que as pedras das muralhas despedacem-se
Diante dos olhos dos seus próprios artífices,
Antes que as nódoas de sangue desapareçam
Sob a ação dos protozoários pós-modernos!

Grite!...
Até que as pontes, portas e degraus ressurjam
Como um caminho para qualquer peregrino,
Antes da extinção dessa milenar espécie
Que como “dessemelhante” subjuga o próximo!

Grite!...
Até que a terra um edênico nicho torne-se
- Um histórico berço, não um mausoléu,
Antes do decreto da paz apocalíptica,
Da autodestrutividade em seu cerne implícita!

Grite!...
Até que a voz torne-se um cavernoso eco
- Dos porões endócrinos até os nevrálgicos,
Antes do abissal silêncio do vácuo cósmico,
Do “na-da” (ou do “tu-do”?!), que tanto desespera!!!

Grite!...
Até que o humano alcance a autoconsciência,
O estado último da existência terrena,
Antes da degradação da macrobiose
Que igual torna todos os seres biológicos!

(extraído do livro "Quase Sagrado" - inédito")