Na cabine do meu Fiat

Penso na atmosfera que se cria
quando recostado, diante de ti,
me faço pequeno
dentro do meu Fiat.

Penso na atmosfera,
quando me calas
e me beijas longamente,
e exploras, imetódica, todos os recantos
da minha boca, lingua, dentes...

E que quando não nos beijamos,
silentes, abraçados,
teus verdes olhos pousam nos meus,
e tu me olhas protetora,
quase verticalmente.

Recostado no teu braço,
penso no ar que ocupa o espaço
entre teu rosto curioso e o meu,
na penúmbra da cabine do meu Fiat.

Penso na composição deste ar,
mágica mistura dos nossos hálitos,
da minha e da tua respiração,
dos meus cheiros e dos teus perfumes.
Penso, sonolento, em minha confusão,
por me gostar dominado,
por te não querer dominar.

Penso. Penso muito, sim, agora,
ao escrever para ti
estes versos.

Mas, na cabine do meu Fiat,
ao me beijares, apaixonado,
em nada penso. Meu tempo pára,
e nada sou, nada vejo, nada sei,
nada pretendo, nada projeto,
nada espero,
nada, nada, nada...

E tudo fica belo. Tudo pressinto,
tudo descubro, tudo é pacífico e singelo;
tudo consinto, aceito e quero,
e em tudo acredito
quando me beijas, quase verticalmente,
e comprimes contra minha boca
o ar mágico que inventamos;

quando te exprimes mudamente
com teus lábios e língua e dentes
quando inscreves teu amor
no interior da minha boca,
na cabine do meu Fiat.

Como é bom amar e curtir a mulher amada... em todos os lugares, em todos os momentos. Es uma deusa!...

Interior do Rio de Janeiro, numa noite de tempestade...