No mesmo lugar


Busco lugares
sonho veleiros
 azuis
pincelando mares
navegando  pazAceno
passam devagar
sem notar meu abismo 
meu sinal
e fico no mesmo lugar
Janelas abertas convidam voar
asas encruam
não alçam nem voam
se quebram no ar
Correntes enclausuram
meu eu enclausurado
-como de praxe- 
quero me libertar

Amedronta-me o tempo
que tende a acabar
Não o meu
Sou  meu próprio tempo
atemporal 
não morre jamais

Agarro-me ao vento
em redemoinho
vou em espiral
na volúpia de girar
de me deixar levar
sem sair do lugar
Horizontes provocam
desejos aguçam
o ir pra ficar
em suas linhas me enrosco
tropeço, regresso
sem sair do lugar
Quero estar no infinito
onde o fim não vai estar
dar de cara com tudo,
com o Todo,
com nada, com mais...
Oceanos ondulam
navios
sem cais
pelos portos procuro
lugar pra atracar
amordaçar o meu grito
estancar o estampido
fazê-lo calar
- silêncio erudito-
sem sair do lugar

Carmen Lúcia
-primavera/2024