Vidas Secas
Segue.
Olhos fitos em frestas profundas,
mirando quase esquecido,
as pontas dos dedos atrevidos,
pretos da vida que pisam,
duros da vida que comem.
E tudo é de um amarelo cinza, sem jeito.
Quer gritar, mas o grito se encerra no peito,
e a boca, aberta e torpe, não diz nada;
e os olhos, oprimidos, estendidos, não veem nada.
Pelejam malogrados sobre carcaças de vaca, de boi, de gente, de ninguém.
Segue.
Matuta de tudo um pouco.
É pássaro ligeiro, de asas largas;
é bicho astuto em pasto gordo;
é lombo de boa monta;
é cabra de fala solta, carente de ilusão.
Segue.
Deixa de ser vulto e vira a coisa sonhada.
Melhor que quase tudo,
Muito mais que quase nada.
Um poema inspirado em Vidas Secas de Graciliano RamosPenha, Santa Catarina
Du Zai
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