Entre a chama e a razão

Eu não gosto de ser morna, em nada. Se me vem a situação para sentir, é sempre muito. Sempre altas aventuras, sem medo, altas temperaturas. Quero vibrar, desbravar sem muita eloquência — ou nenhuma.

Num mundo onde tudo parece ser mediado, ponderado e sistematicamente analisado o tempo todo.
Sinto como se esse exagero de sentimentos pertencesse somente a mim, muito embora sei que não. Sinto-me estranha e incompreendida nisso tudo.

Se me vejo obrigada a um afastamento emocional, ele vem com muito custo. Demoro a me render a essa sensação de ficar de fora dessa minha parte sensível, de afastar-me do meu lado passional.

Mas quando acontece, eu me exilo. Afasto-me tanto que a chama esfria. A chama da minha essência. Dizem que não podemos nos perder dela, então eu reluto, de verdade, até não ser mais possível.

Daí me vem um ar blasé que transparece no rosto. Fico xôxa. Entro no racional absoluto, como se a emoção que me pertence tão profundamente fosse abafada, tal qual um copo cobrindo uma vela acesa. A chama par'aquela emoção foi extinta.

Descobri recentemente uma curiosidade: a palavra "emoção" vem do derivado da palavra movere, em latim — que significa mover. Portanto, faz total sentido saber disso agora. São as emoções que nos fazem movimentar, que nos fazem agir de dentro para fora, simples assim. Por isso é sem pensar mesmo.

Já falando do meu racional, ele é bem lúcido, tão nu e cru que dói. Não poupa ninguém, nem a mim mesma. Tudo muito claro, os movimentos, o movere aqui é calculado. E não deixa de ser outra parte incompreendida também. Um lado que chega a ser rude e honesto demais.

A situação fica muito difícil analisando agora, porque as pessoas não gostam de quem sente demais, de quem ama demais, de quem vive no limite do penhasco. Também não estão muito inclinadas a aceitar a sinceridade e a clareza, que o lado racional traz aos olhos e à boca. Muitas vezes com palavras duras que não querem escutar. Verdades que não querem saber... ou que, certas vezes, nós mesmos não queremos.

Fica então o meio-fio. Fica o morno. Nos resta "ficar em cima do muro", mesmo sem gostar de estar lá.

A verdade, meus caros, é que todos nós, nos equilibramos na corda fina e bamba, segurando uma vareta com a emoção e a razão, cada uma numa ponta. No fundo tentamos manter a pose e a elegância, sem saber que dois passos adiante vamos cair. Pender para o lado mais pesado e desabar no chão... Lá do alto, sem nada para amortecer a queda.