O Risco do Amor e de Quem Ama

Engana-se quem pensa que o “felizes para sempre” comuns em contos de fadas resume o amor compartilhado.
Talvez um problema que tal frase transmita é o de mostrar que um certo evento como um beijo, um pedido de namoro ou de casamento seja o fim de tudo. Pelo contrário.
Quaisquer eventos ou instantes temporais vividos por duas pessoas que se amam jamais podem ser vistos como fins. Há (ou deveria haver) um horizonte à espera a ser trilhado.
Por mais que duas pessoas possam ser felizes para sempre, existem uma série de elementos rotineiros, imprevistos, chatos, legais, que precisam ser vividos. E sobre eles, não podemos ter certeza de como ambos os cônjuges lidarão com a situação.
Se a coisa pode piorar, é que se a certeza da felicidade permanente não é verdadeira para pessoas que se amam mutuamente, tampouco ela é para quem sequer chegou a viver algo compartilhado com outra.
Gostamos do que é certo, do que é cômodo, da conhecida zona de conforto. Afinal, além de estarmos cercado daquilo que gostamos, possuímos o controle de, senão todos, vários elementos.
Mas e no amor? Que tipo de controle se pode ter ao se amar alguém?
Você abre mão, em algum momento, de uma das coisas mais preciosas suas – o tempo – para se dedicar a outra pessoa... que você sequer consegue controlar o sentimento dela por ti.
Por que investir recursos financeiros, tempo, disposição, vontade em prol de alguém que talvez não vá retribuir com aquilo que você tanto almeja – seu amor?
Perceba, então, que o amor está menos para um portal do destino com uma placa em cima escrito “felizes para sempre” e está mais para um jogo de apostas, onde você pode ser apenas mais um concorrente; mais um participante, com suas fichas e estratégias, virtudes e defeitos, desejando algo que, em sua totalidade, foge de sua alçada.
Acho que nisso também está contido a beleza no amor.
Abrimos parcialmente mão de nós mesmos por algo que sequer podemos ter certeza que conseguiremos, e isso (ao menos ás vezes), é maravilhoso!
Tantos sonhos, planos, desejos, inspirações que amar alguém nos proporciona.
Tantas coisas que o fato de amar alguém nos leva a uma melhora pessoal.
Por mais sérios, ritualísticos que sejamos, uma hora o amor bate á porte.
E abrir a porta do próprio coração é algo que uma hora ou outra terá de acontecer.
Sorrir para ele, se faz, em algum momento, necessário.
Se entregar de corpo e alma a alguém, será, em algum momento, uma realidade.
Amar alguém, viver em parte para outro pode levar a sofrimentos? Sim.
Pode levar a desilusões? Com certeza.
Pode machucar, fazer com que desejemos ser como o Homem de Lata de O Mágico de Oz? Sem dúvidas.
Porém, abrir mão de amar alguém por receio dos contratempos que ele pode trazer é abraçar fortemente a covardia.
Que sofrimentos venham, que desilusões surjam, mas que nunca uma pessoa amada falte em minha vida.
Se o amor é um risco, quero, ainda que por vezes desanime, jogar o seu jogo enquanto forças tiver.
Mesmo que não tenha um porto de chegada, um: “felizes para sempre” para me agarrar.
Que possa trilhar o destino que ele colocar em minha frente junto de alguém por todo meu viver.
Quem sabe assim, em algum momento, viva o seu lado mais belo e reluzente; quem sabe assim, em algum momento, compartilhe um dos dons mais lindos da vida com outro ser, e juntos, vivamos um pouco daquilo que os contos de fadas trazem: uma vida de amor e paixão, que um dia, enfim, terminará num felizes para sempre.