Percival

" (...)Naquele dia, sentado na capela, o Percival não parava de olhar em frente. Tinha também o hábito de levar a mão à nuca. Todos os movimentos que fazia eram dignos de nota. Todos levávamos as mãos às respectivas nucas - mas sem qualquer sucesso. Ele possuía o tipo de beleza que se defende de qualquer carícia. Dado não ser minimamente precoce, lia tudo o que existia da nossa edificação sem fazer qualquer comentário, e pensava com aquela equanimidade (as palavras latinas surgem com naturalidade) que só o podia preservar de tantos atos mesquinhos e humilhações, e também de pensar que os laçarotes que a Lucy usava no cabelo e as suas faces rosadas eram o expoente da beleza feminina. Devido a estas defesas, o seu gosto acabou por se tornar requintadíssimo. Mas o melhor seria haver música, um qualquer canto feroz. Devia entrar agora pela janela uma canção de caça, entoada por uma forma de vida rápida e impossível de apreender - um som que fizesse eco por entre as colinas, acabando por esmorecer".


VIRGINIA WOOLF- AS ONDAS

Eloisa Alves
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