Que exales na vida cada gota de tua alma

Que derrames mares inteiros de teu corpo

Que tua palavra abrace e teu olhar beije

Que teus ombros aninhem paz do aconchego

Que te epidermes amor por todos os poros

 

Que te desmanches na dança da existência

Que tu aprendas com a acidez e com o mel

Que liberes todas as lágrimas represadas

Na alegria, que gargalhes circos felizes

Que experimentes os humores das estações

 

Que cintiles esperança em noites escuras

E que nasças no amanhecer para nova vida

Que desaprendas máscaras em teu rosto nu

Que partilhes teu único e verdadeiro ser

Que tu desertes silêncio para te escutar

 

Mas que voltes ao calor das outras casas

Que alimentes a tua alma de profundidade

E que enraízes em jardins de teus amigos

Que te espraies na eternidade do momento

E sigas encorajando-te asas a teu casulo

 

Que tu grites borboletas à rotina cômoda

Que te concebas tuas idades numa criança

E que ouças a magia das bolhas de sabão:

À frente da longevidade, habita a leveza

Que bebas vida na genuína fonte: a saúde

 

Que nutras átimos saudáveis em teus dias

Que não te tornes sombra de teu trabalho

Nem ofusques bem-estar com luz de moedas

Que oxigenes harmonia ao corpo e à mente

E repouses na brisa alegre da vida plena

Além da mensagem, interessante neste poema é a métrica: cada estrofe tem 200 caracteres e cada linha, 40 caracteres com espaço. Quis com isso, de modo simbólico, fazer referência à perfeição, entendida como equilíbrio (que pode ser pensado como a exatidão dos números).

Campo Grande, 16/03/2020, início da quarentena devido à pandemia

Osvaldo Júnior
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