Eternidade

Quando vier a primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na primavera passada.
A realidade não precisa de mim.

Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma.

Alberto Caeiro

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Se eu morresse hoje,

Minha mãe não saberia que ainda o amo.

E se eu morresse, neste instante, enquanto escrevo,

Você também não saberia da minha vida, nem da minha morte.

Não há nenhuma realidade para esse amor.

 

Mas se eu soubesse que amanhã morreria,

Pediria para a minha mãe comprar os girassóis de Van Gogh,

Porque, talvez, eu ainda esteja naquela cama,

E ela não saberia que ainda o amo

E você sonharia com o meu espírito morto.

 

Sinto o seu desprezo,

E ao pensar nele, morro feliz.

Que mágoa haveria de ser senão a mágoa pela eternidade da vida?

Ainda que você sinta girassóis em seu quarto,

Nunca haverá realidade para o seu desprezo, nem para o meu amor.

 

 Somos eternos.

 E este é o meu único medo.

Eloisa Alves
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