UM FLUIR DE NADA


Rasgou já o sol ao longe o horizonte
Foi-se a madrugada, veio um dia claro
Lindo o arrebol que dava cor ao monte
Tom de cor rosada que morreu de raro

Que trará de novo este novo dia
Parido em silêncio pela madrugada?
Nos versos que trovo, minha fantasia,
Ao imo convence-o um fluir de nada

De nada que mude pra curar o Mundo
A casa que é nossa e nossa vergonha
Vejo a acritude do gesto iracundo
De mentes que em fossa nadam em peçonha

Porquê? Interrogo. Em nome da paz?
Hediondos crimes de gente que manda
Ateando em fogo com forte tenaz
Ideias sublimes. E o lume ciranda...

Triste fome e sede saciada em prantos
Da vossa irmandade insensíveis às dores
Mas olhai e vede... os crimes são tantos
Que em boa verdade os vossos horrores,

Já pra vós se voltam enfrentando impérios
Que hão-de sucumbir, mais tarde ou mais cedo
Ideias se soltam dos cérebros sérios
Os que hão-de surgir com a paz do degredo

Sob um sol que arde, um fluir de nada?
E se houver um passo, só um, pequenino?
E outros mais tarde? E outra alvorada
Que traga um abraço mudando o destino?


Joaquim Sustelo

Joaquim M. A. Sustelo
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