Vai longe os meus dias.
Morremos a cada dia,
Mas lutamos por viver a cada momento.
Buscando como mariposas em torno de luzes,
Nossas fugazes migalhas de felicidade.
Nos anestesiando com sonhos e ilusões,
E ainda que não sendo iludidos,
Saber da justa necessidade deste alívio
Para suportarmos as indesejáveis dores da vida.
Ainda que a face ganhe o relevo das rugas,
Que os o contorno do rosto fica com pelos prateados,
No coração ainda existe um menino que tudo vê.
Este velho infante parece encontrar com o infante senil.
Talvez as cores não fossem tão belas,
Se não tivessem algo de onírico.
Talvez os prazeres dos sentidos,
Não atingissem o gozo se não um tempero lúdico.
Páginas que vamos escrevendo,
Uma espécie de livro em que o sujeito
Ao fim será absorvido pelas suas páginas.
Na ilusão que o tempo nos proporciona,
No integrar de passado, presente e futuro,
Eu diria que já nascemos póstumos.
E é claro aqui vai uma dose de doce ironia.
Doce, pois que não tem amargura,
Mas como que um velho vinho,
Tem o sabor ditado pela resignação.
Não envelhece bem que não aprende a arte da resignação,
Como que num sentido inverso a vida continua,
Da primavera ao verão, do verão para o outono,
E do outono para o inverno.
Que nenhuma estação seja absoluta,
Que cada uma tenha sua beleza e encanto.
Que em cada rosto coberto pelas linhas do tempo,
Vejamos o brilho que ali esteve na juventude.
E quem sabe assim tenhamos a sensação de graça,
Consigamos sentir a misericórdia,
Que é tão difícil de ser entendido em sua alma.
Pois que o amor não é tolo,
Mas suavemente exigente.
Semente latente que brota no solo da alma.
Ah, o amor, o que seria ele sem a justiça,
E o que seria da justiça sem o amor.
As letras não findam, mas o texto sim,
E não sensação de ser tão minúsculo,
Parece que mergulho em uma grandeza,
Que não de minha posse,
Mas que de algum modo faço parte,
Sem saber o porquê, sem entender a razão,
E as letras meio que cansadas,
Mas também serenas,
Mergulham na resignação,
De encontrar na solidão de si,
Um ponto de conexão com o Todo.
Deixando como de lado o raciocínio,
Apenas sentido,
Um meio que nada a ver o Todo.
E numa oração intuitiva
Se faz refém pacífico da própria existência.
26/03/2022
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