Devaneios de uma pessoa farta

Eu estou cheio.

Sentindo o peso do mundo em minhas costas
enquanto espero o findar da madrugada
ouço murmúrios de uma garrafa térmica
me veio o desejo de rascunhar alguns versos.

No ritmo de um leve dedilhado de violão
acompanhado de um vocal pálido como a neve
do mais frio inverno islândes onde ecoa o silêncio
Ao fundo pode se escutar um batuque, qual batuque?

Tal batuque se confunde com as batidas do meu coração
Coração que há tempos bate descompassado, machucado
Me distraio com as vibrações do meu celular, me desconecto
Sinto me perdendo as energias, me coloco para recarregar

(Espero)

Continuo escrevendo, sinto que cada linha que escrevo
apago várias outras que outrora escrevi, busco coerência
Saio do sentido e sinto que escrevo o incompreensível
Tolo eu esperar coerência quando o assunto é o coração

Meus erros breves vão aparecendo a cada garrancho
demonstrando a minha tendência para desatenção
Talvez na verdade tenha uma atenção particionada
Escutando o som do lápis no papel, a música, o vento

O mínimo barulho na vizinhança me atrai a atenção
E a gritaria interna que ecoa no meu sentimento de vazio
que me falam muitas coisas que não quero escutar
não sei se falta coragem ou se procuro uma trégua mental

Minha dor aparece sorrateira antes mesmo de terminar o último verso
Sinto que deixo um pouco do rascunho que sinto nesse pedaço de papel

João Ramiro
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