O ano vem, anos vão
Nas frases de lugar comum
Aonde os sentimentos se consolidam
Compra-se uma casa ou um apartamento
E a solidão agora tem um endereço
Ganham-se causas pendentes,
Mas perdem-se vidas, referencias
Ainda assim seguimos seus exemplos.
Alguém que não existia, aparece
Sorri, cativa e solidifica
Escrevemos coisas
Distribuímos palavras
O mês de agosto chega
Seus ventos sopram
Mais um ano enfim e ao fim
Para o monte que se acumula
Nas paredes da memoria
Paredes que rabisco
Criando um mundo quase real,
Mas sempre surreal
Um mundo de personagens
De nós mesmos que diz:
“-Não sei, só sei que foi assim!”*
Corro por ruas desertas
Que crio e coloro em cores vibrantes,
Mas com meus olhos negros
Ouço as vozes, mas não vejo ninguém
E aqui do terceiro ou quinto andar,
Já não sei dizer
A vida parece correr tranquila,
Bom vinho, boa comida e amor
Imagens que crio e destruo
Nos destinos paralelos e incertos
Mas sei bem qual mão
Acaricia meu peito
E qual boca beija a sua boca
Sigo criando mundos e imaginando desfechos
Desejando que agosto cheque novamente
E o vento venha desarrumar meus cabelos
Como um presente de aniversario
E que as palavras possam fazer sentido
Que eu possa receber e desejar felicidades,
Mas não este ano.
Este ano foi de esquecimentos,
Dores e partidas fora do tempo.
* Ariano Suassuna
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