Meu pai e o Racismo.

Um dia eu pré-adolescente e como qualquer moleque curioso perguntei.

Pai porque o Senhor não casou com uma negra?

-Eu não queria ter filhos negros!

Mas, pai isso é racismo, o senhor é negro!

-Por isso mesmo Messias, por eu ser negro, não queria outros filhos negros!

Logo pensei meu pai é racista, meu DEUS!

Mais velho, com aquilo sempre me perturbando, fiquei pensando tenho um pai racista?!

E comecei analisar os possíveis porquês, e fiquei imaginando um homem nascido em 1933, e sendo negro, em uma época onde ser negro era ser nada, tido como favorecido por uma lei obrigada, e com olhares de que era apenas escravo liberto, e aquilo nenhum direito lhe daria.

Roceiro de origem como meus avós negros, onde todos eram brancos, vida sofrida desde os sete anos capinando e ajudando no sustento da casa, lembrando-me dos relatos da minha vó, pouco tempo tinha para estudar e quando na escola ia só brigar era o que fazia, enquanto crescia o negrinho no meio dos brancos, só uma escolha tinha o de ser o mais forte, e o que todos ali temiam. 

E foi assim sua juventude com varias brigas, dos que eram corajosos para essa fúria reprimida enfrentarem, hoje entendo o que ele me dizia em não querer ter filhos negros, era uma forma de proteger, daquela fúria que o próprio carregara por uma vida, meu pai extravasava, levando o medo para aqueles que tentavam enfrenta-lo, em suas brigas parece que toda essa raiva era colocada para fora e fazia questão de sua marca deixar como um terror instaurado, seu oponente sempre saia bem machucado.

Meu pai não era racista! 

Ele só queria ver seus filhos, sendo julgados pelo valor de seus atos, e o caráter adquirido, não queria que a cor de suas peles, fosse o fundamento disso, hoje entendo que ao fazer isso, ele só pensava em nos proteger, e evitar que nós seus filhos, fossemos vitimas do terror que foi pra ele, ser um negro, em um mundo onde sua cor determinava seu espirito.