À Gabriela Assunção de Souza.
Assim como Álvaro de Campos disse no poema Opiário:
"É antes do ópio que minh'alma é doente",
Sou assim com relação ao consumo ébrio em minha mente
E vendo meus instintos e vida tal qual um mercenário.
Vou ingerindo as tóxicas e hostis substâncias
Para tentar esquecer os pesares do mundo, tanta mágoa,
Imensas decepções por acreditar na humanidade... Afago-a
E a recompensa é um apedrejamento nas devidas instâncias!
Já não sei muito como passar o tempo sem tédio
E sem abandonar pessoas comuns e insensatas que por mim passam.
As ruas movimentadas, despreocupação... Desejo que se desfaçam
Em fragmentos de bom senso, um aerossol em forma de remédio...
Preencho o tempo sem os álcoois a simplesmente existir,
Sem um propósito ou desejo claro sobre o que deveria fazer.
Fico a indagar se devo sucumbir ao convencionalismo e apenas ser
Quem querem que eu seja ou se devo resistir...
Não posso dizer que é sem indignação ou sem pasmo
Que observo o que é o cidadão ideal, sóbrio, comum,
O qual não deixa o mundo o afetar, a colocar-se como o número um
Em situações tolas que em mim causam colossal marasmo.
E no fim, sou eu, provavelmente, o errôneo e estranho
Por querer a perdição (ou achamento) em uma garrafa...
Tanta coisa que ocupa os demais, simplesmente me causa estafa.
Tanto o que limpar na vida e eu sequer tenho paciência para um banho...
E é isso que sinto por praticamente tudo e todos: Preguiça.
Há desânimo célebre em mim, paralisação do pessimismo.
Fui perseguir minha baleia branca e o que encontrei foi um abismo
Cheio de pústulas, moscas, pecados, dor e carniça...
Eu não sei bem se isto tem a ver com as estrelas do zodíaco,
Ou se foi por causa daquele vinho que bebi outrora -,
Mas pressinto que depois de experimentá-lo, apagou-se-me a aurora
E tudo ficou mais amargo sem ele, muito mais demoníaco...
Chamem isto de fraqueza, alienação, tolice ou vício.
(Eu não me importo mais com clichês e julgamentos!).
Vou caminhando, de forma arrogante, admito: Poucos sentimentos
E tendo cada mínima ação corriqueira como um sacrifício.
Se tudo na sociedade me aborrece e me leva à bebedeira,
O que espero conseguir e, o que, afinal, me rege?
Talvez eu já esteja derrotado e sem salvação, com o fígado bege
Após tanto consumir o álcool como se fosse água da torneira!
Mas são os momentos, dias sem ele, que me trazem inquietação,
Posto que penso nos males tão sóbrio e não durmo...
São poucos os humanos com quem me associo e enturmo
Por entenderem minimamente o caos em meu coração...
Por isso, mesmo sabendo o quão nocivo isto é, permaneço no erro.
Quero caminhar a modo de implodir movido a álcoois!
O fim é de tranquilidade a todos, também quero sossego, pois,
E derramem destilados ou fermentados no caixão em meu enterro...
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