Gritos que marcam

 
Nós cidadãos do mundo
Acostumados a ver
Marcas que marcam a pele
Que o sonho e o coração fere
Cenas difíceis de conviver
 
Será uma marca eterna
No século e no coração
Mais um criolo humilhado
Pescoço ali esmagado
Sem aparente razão
 
Preto pobre
Infeliz desgraçado
Com o som abafado
Seu grito?
Um silêncio:
 
“Cara, meu rosto!
Eu não fiz nada grave.
Por favor!
Eu não consigo respirar!
Por favor, cara!
Por favor, alguém!
Eu não consigo respirar!"
 
Fechou os olhos
Um último silêncio  
De agonia...
De prenúncio...
De morte...
 
Do que adianta o grito?
Do que adianta a dor?
Do que adianta o lamento?
Do que adianta...
 
Ninguém jamais escutou
Só mais um grito perdido
De mais um homem banido
Da vida que não desfrutou
 
Cada palavra em seu grito
É como ferida aberta
Expondo a humanidade
Em sua vergonha perpétua
 
Homens vazios de si
Humanos sem humanidade
Que não reconhecem o belo  
Presente na diversidade
 
Império da indiferença
O racismo só cresce
Onde o silêncio ecoa
Canção que desentoa
E a sociedade padece  
 

 

Ozeas Genaro
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