O desespero bate à porta...

Não me sinto mais preso ao universo

Quando tudo soa irrelevante:

Pessoas, a matéria, o amor, o eu...

O pior inimigo da humanidade é o ser humano.

 

O abutre da tempestade pousou em minha alma!

Tudo o que enxergo, desde então, é distorcido

E sinto um imenso vazio corroendo todo o resto,

Encarnando uma despreocupação mórbida

Nas seis vezes seis vezes em que me procuro

Sem encontrar vestígios do que fui outrora...

 

Nada tem mais um significado real para mim.

Estou prenhe de apatia e languidez...

Não consigo ver o valor das gentes,

Não me importo de perdê-las, nem de me perder

Na confusão de um mundo o qual jaz pútrido.

 

Sem mais, o que resta?

Um perpétuo esperar por eventos que não acontecerão?

(Mas não tenho esperado por algo...).

Essa angústia negra que tomou conta de mim

Clama pelo meu absoluto fim

E eu pareço correr nesta direção sem importância...

 

Só não careço por ninguém.

Eu pensei que o amor era infinito: nunca o provei...

Sinto preguiça de cultivar relações

E vejo defeitos intransponíveis nos outros.

Sinto vergonha que cuidem de mim,

Ainda que eu aprecie cuidar...

(Abram aspas para este último verso).

 

O que ser, o que fazer quando tudo é sem importância?

Viver é duro, especialmente para os demais.

O horizonte da existência é mais negro do que breu...