Crê o escritor ser o tempo
E nele mergulha embalsamado,
Encantado com as horas inexoráveis...
 
Permite-se navegar sobre as nuvens
E nada na correnteza dos ventos
Em busca duma inspiração ortodoxa
Que traz das aventuras, o teor metafísico.
 
Crê o escritor ser as madrugadas
E nelas galanteia com as estrelas
Perdidamente apaixonado por si mesmo.
 
Observa-se tímido diante da imensidão
E do todo abstrai o conhecimento intrínseco,
Capacidade que lhe dá a sublevação íntima,
Tornando-o vítima de seus próprios arroubos.
 
Crê o escritor ser a ilusão,
Dormente manjedoura donde advém
A sagrada epopeia do saber escrever
As ditaduras ovacionadas pelos corações.
 
Crê o escritor ser saudade e solidão
E, perante os arremates do tempo invertebrado,
Entrega-se às conspirações tresloucadas
Das almas consubstanciadas pela irreflexão!
 
O escritor absolutamente em nada crê: medita!
 
 

 
DE  Ivan de Oliveira Melo

Ivan de Oliveira Melo
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