Querubins pousaram em meu peito,
que não é mais de aço,
nem tem brilho, não é de algodão.
Sou todo louça,
e louça é quebrável.
Cada célula, cada átomo
que se mover
estará contaminado:
expressões, olhares de esguelha
e maravilhosa irreverência.
Gueixa intocável, angelical,
natureza cor-de-rosa,
cor-de-mulher, cor-de-amor,
poesia ambulante em meu cérebro.
Minha íntima sedução grita
calada, de medo, peito a fora.
E peito a dentro sou cristal.
Tempo, vento, ninguém, nada fica.
Como folha descendo a corredeira,
pensamento deságua na noite
e meu sonho deságua no mundo.
Quis chutar-te, anjo bobo,
cortar tuas asas maldosas,
mas é tudo tão sem nexo...
Digo:
Pousem, querubins!
que meu peito nunca foi de aço.
(1985)
Geovani Bohi Goulart
© Todos os direitos reservados
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