Sobre a calçada gasta pelo tempo
vão meus passos lentos e pesados
como as pedras que me acompanham
e dou comigo na saudade de menino
feita de silêncios que me apertam e esmagam.
 
Será o silêncio um conforto inútil,
mas talvez seja a melhor forma de me ouvir
e voltar ao meu pé de criança
leve e lesto
e fazer ouvir o meu protesto
de perder para sempre
o meu pé de menino-do-arco.
 
Que importa falar aos peixinhos,
se a corrente das palavras vai em maré revolta,
tão fora de margem
tão dentro do meu peito?
 
Falarei às pedras da calçada
e neste jeito,
pedirei que me acompanhem
na minha última viagem
enquanto trocamos memória da nossa passagem
pelo tempo que nos gastou.
 
Restam-me as pedras tão cansadas qto eu
e se os peixinhos me ouvissem,
dir-me-iam
que para se chegar ao céu
há um longo caminho a percorrer
feito de pedras e passos pesados
e se por acaso tropeçar por falta de ligeireza,
não desanime,
de certeza encontraremos o caminho certo:
eu de pé lento, gasto e cansado,
e as pedras tão gastas e cansadas qto eu,
mas todos,
todos um dia chegaremos ao céu.
 
 
 

 

santos silva
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