Ser brasileiro não é nascer no Brasil, apenas,
Quem é, sabe,
É algo que irrompe, desce sobre você, como uma capa.
Difícil traduzir em sentenças,
Pôr em palavras.
Isso vem mudando com o tempo, é verdade,
Surgiram impiedosos ladrões da nossa brasilidade.
Esses ladrões não roubam somente o dinheiro que, é claro, tem grande importância,
Pois assim como homens, há nações inteiras a viver na mendicância;
Roubam as rimas de nosso hino, as cores de nossa bandeira,
De nossa pele, de nosso samba,
Até a cor rubi, tão natural, da vergonha,
Esses ladrões querem roubar,
Em um desejo vil de nos desnaturar, nos moldar feito barro;
Fazer cuspir, um na cara do outro,
Escarro atrás de escarro.
Sim, querem roubar nossa porção humana,
A união de todo compatriota, integridade de uma nação.
É a velha estratégia de “dividir para conquistar”,
Funcionou até agora, porque deveriam parar?
Vou dizer porque:
CHEGA!
Passou da hora de crescer.
Governo nenhum ou político
Pode valer mais do que você.
Se é pobre e quer deixar de ser, comece por enriquecer seu pensamento,
O funcionamento de sua mente,
É o que — dizem — te diferencia dos animais.
Comece a se esforçar para pensar
Melhor e Mais!
Pense de forma independente, seja rico de inteligência,
De caráter, de garra, de orgulho de ser brasileiro!
Com esses pequenos passos, chegará também ao dinheiro,
É consequência.
Não seja mesquinho, cara,
Querendo empobrecer, junto a você,
O país inteiro!
Para o mesquinho, talvez isso trouxesse alguma alegria,
Mas eu garanto: muito pouco ela duraria.
Até para a criatura mais egoísta do mundo
Seria um incômodo
Ver o cenário todo destruído, e a fome apertando
Todos os estômagos.
Desigualdade material há no mundo inteiro:
Na China, no Japão, na Islândia,
Mas ela não diminui na base da falsa esperança.
Diminui, e muito, quando se é permitido trabalhar,
E com trabalho e espaço para se desenvolver,
Se aperfeiçoar,
Evoluir com esforço digno!
Olhar-se ao espelho e dizer:
Não preciso de governo, não preciso de político,
Tenho o poder sagrado e inalienável de prover meu próprio sustento!
A desigualdade diminui, e muito, quando se é livre
Para estudar, pensar, trabalhar, empreender,
Transformar-se em sua melhor versão,
Ser o que se deveria ser!
Olhar-se ao espelho e não sentir compaixão
Da imagem revelada,
Muito pelo contrário.
A vida é tão curta e já é dura o suficiente,
É preciso sentir-se gente,
O valor de não ser um toco, um caroço, um peso,
E poder, com os tributos em dia,
Estender a mão para quem de fato precisa:
Crianças abandonadas, inválidos, idosos, doentes…
Estes nunca serão um peso para um povo decente,
Uma verdadeira nação!
CHEGA!
Brasileiro, cave de novo o Brasil,
Se preciso for, com as próprias mãos!
É verdade que a vida é luta,
Assim dizia Zaratustra,
Mas o único líquido derramado,
O único pedágio
Deve ser o suor da sua testa,
O esforço de desvendar o quebra-cabeça,
Por você mesmo.
Sempre haverá ladrões e os que permitam ser roubados,
Mas ser brasileiro não precisa estar a isso associado;
Ou a tudo que é torto, parco, mesquinho, malformado...
BASTA!
Saiba
Que há quem admire, fora de nossas fronteiras,
Além das águas e das terras,
Nosso clima, nossa gente, nossa música, nossa comida.
Há quem daria tudo por esse pedaço de chão,
Que não é pequeno nem é pobre,
Mas não está imune ao ladrão…
Tudo um dia acaba,
Um dia, tudo se esgota,
Até mesmo o pão.
Se você ainda é pobre,
É porque esses mascarados, que tanto prometeram,
Nada cumpriram.
Lá no fundo, você sabe que tenho razão.
Além de roubarem seu dinheiro por direito,
Te enganaram com algumas migalhas
Que sempre caem, por acidente, da mesa dos eleitos.
Outros crimes cometeram:
Te fizeram perder o ânimo,
A força dos músculos,
A energia do pensamento organizado.
E essa roubalheira que, no fundo, te machuca,
Te levou ao vício da bebida, da droga, a fugir da labuta,
A escapar da vida consciente e do apoio da razão.
Só que você é brasileiro, cara,
De espírito verde e amarelo, não dá pra fugir…
É adulto, capaz, humano, alguém nesse mundo!
É preciso lembrar das causas que geraram as consequências,
E que o medo faz parte da vida.
Grande ou pequeno, o medo
É uma sombra que te guia.
Um artefato importante que te acompanha.
Viver é uma aventura, uma façanha,
E até aquele que nasce em berço de ouro
Tem seus desafios, cai em artimanhas,
Pode crer, a vida nunca, nunca está ganha.
Te fizeram acreditar que é fácil ser pobre,
Afinal, nada se pode perder….
É só ficar de boca aberta,
Que nem filhote no ninho,
Esperando um lobo vestido de mãe,
Que te dará de comer,
Só um pouquinho…
E a impotência de voar só a crescer...
Sinto te dizer:
Se continuar assim, brasileiro,
No dia que o lobo tirar a máscara
(e até já tirou, confiante),
Você vai virar o rosto para o lado
Com vergonha de ter sido enganado,
E tentar fingir que tudo é como antes.
Só que o lobo, dessa vez,
Arrancará suas asas de vez,
Pra te ver chorando de fome no ninho,
Afogado na própria morbidez.
Não haverá outro brasileiro,
Ninguém mais,
Pra te estender a mão,
Todos estarão moribundos,
Estendidos no chão,
Todos juntos!
Rico, pobre, empregado, patrão,
Riscados pela mesma régua,
Todos iguais!
Igualdade material que você tanto sonhou
E de que só a morte é capaz.
 
 
 
 
 
 

Lucilla Guedes
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