Eleição Presidencial


Eleição Presidencial
Aos poetas satíricos e aos cômicos clowns!
“A injustiça avança hoje a passo firme
Os tiranos fazem planos para dez mil anos” – Bertolt Brecht
 
1.
Nunca fui dos que levantam bandeiras por algum candidato,
Bem, também, na maioria não são militantes propriamente,
É subemprego, por alguns tostões, uma quentinha, um par de sapatos,
Alguns nem têm ideia sobre a importância do mandato certamente!
 
Há, eu sei, alguns partidos com alguns militantes de fato,
Mas é caricato quando se lhes retira o transporte, a camiseta e a merenda,
E aquele ardor pungente com palavras de ordem do sindicato
Logo se desvela, e ao cair da tarde, rápido, desarmam a tenda!
 
Nessa patuscada toda o que se vê é a miséria do desemprego,
Tanta bandeira bonita erguida por braços trêmulos de fome,
Sob o Sol ardente, ou a garoa fria, ou sob o vento... O apego
Que se observa é o da subsistência, da ausência de um bom nome!
 
2.
Começa o horário eleitoral gratuito na televisão,
E entram nos lares um bando sem fim de risonhos cantores
Anunciando em versos, nos jingles, o valor e a razão
De se votar neste ou naquele por possuir mais valores!
 
De gratuito esse horário eleitoral não tem nada!
Consomem-se recursos de toda ordem e da desordem também,
Suspeita-se aqui e ali do uso da máquina pública, já toda destrambelhada!
E cada um denuncia a falsidade do outro, a imoralidade por um vintém!
 
Há o que é da direita, extrema ou não, que a ordem militar propaga,
Voltar ao tempo da ditadura, agora tecnológica, para salvar a nação!
Há o que é da esquerda, sinistra ou não, que se diz à fala que afaga,
Que vai com o povo acabar com a opressão e a exploração!
 
Tem também aquele que governará com a ajuda de Jesus Cristo!
Como se Cristo concedesse seu tempo para os conchavos da política!
E ainda, o que proclama a volta dos bons tempos sem nos dizer como é isto!?
Que tempo bom foi esse, se a miséria, a fome, a opressão aqui é granítica!
 
Aqui, ali, acolá, talvez, se apresenta um candidato de fato honesto,
Mas as pesquisas, nem sempre confiáveis, o apontam perto do zero por cento!
E também, se ele subir nas pesquisas, logo aparece um dossiê, um manifesto
Mostrando como escondeu sujeira sob o tapete, como cuidou do próprio aumento!
 
3.
Mas a verdade é que terei que votar no dia da eleição,
Mesmo que escolha anular, deixar em branco uma escolha,
E entre todos, busco o menos ruim, o que tenha algum coração,
E olho, olho, procuro, analiso, concluo no final da folha
 
Que não há opção concernente aos meus anseios,
Talvez eu seja muito exigente, afinal, são homens públicos, conscientes,
Buscando demover montanhas, acabar com a corrupção, os meneios
Da virtude e da honestidade! Ironias à parte, voto de forma descrente!
 
Desde o 15 de Novembro de Mil Oitocentos e Oitenta e Nove
Procure, veja na nossa história, não houve um só presidente
Que cumprisse tudo o que disse no palanque! Comprove!
É sempre um tacho de promessas que se serve cru ou quente!
 
4.
Releio poemas do Boca do Inferno: Gregório de Matos Guerra!
Poemas de Laurindo Rabelo, o Lagartixa! Peças de Qorpo Santo,
Inéditos de Sousândrade! Versos de Castro Alves! E nenhum deles erra!
Nossa política só serve para versos satíricos, paródias e nenhum épico canto!