Há algum tempo eu nasci, fui recebida nos braços magros da minha mãe, fomos abandonadas dois anos depois.

Passamos por momentos difíceis, onde ouviam-se estômagos roncando, dinheiro faltando e amor sufocado sufocando.

Com dezesseis anos eu ainda sonhava com o príncipe encantado, uma casa linda, sonhava em morar à beira mar... Era uma rosa brotando, cheia de sonhos e esperanças, mas por alguma razão fui rejeitada, e naquele momento senti que me matei um tiquinho...

Ao invés de sorrisos e escritas, tive que  aprender a cozinhar queimando ovos por diversas vezes, meus olhos carregavam uma tristeza inexplicável mas era necessário seguir.

Ao longo dos anos, ouvi várias vezes que decepções não matam, mas isso é uma grande mentira. A cada decepção eu me matei um pouco.

Descobri que realmente quando o cravo briga com a rosa debaixo de uma sacada, deixando-a despedaçada, ela ainda cuida dele quando fica doente e que quando ele se recupera briga com a rosa de novo e de novo. 

A cada tapa eu matava um sonho, a cada lágrima eu matava a minha esperança (ela é mais persistente do que eu imaginava), em cada surto súbito depressivo introspectivo eu me matei.

Em cada ocasião onde eu recebia nãos e aceitava, em cada perdão que eu dava eu me matei.

Me matei na alucinação, na dose extra de antidepressivos, na impotência de ser quem eu era originalmente.

Eu imaginava que meu destino estava traçado, eu via um futuro lindo pra mim, sempre fui inteligente tirava as melhores notas, sempre fui espontânea geniosa, dona de um sorriso lindo, apesar dos dentes imperfeitos. O destino estava sim traçado, mas matei tudo isso, toda a magia e beleza quando aceitei ser escravizada moral, física e psicologicamente. 

Não culpo ninguém porque eu me matei, a cada escolha errada e sempre, todas as vezes, que eu cuidava do cravo que me despedaçava.

A minha esperança entrou em coma, mas ela não morreu, e apesar de eu me matar tantas vezes de tantas formas, ela inconscientemente me mantém viva!

Karine Adriene
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