Quis viver o amanhã, hoje.
Ter tudo de uma vez, agora.
Corrida insana. Desejo aflora.
Num instante obter o que degola.
Deixa o que há de mais caro,
as raízes , a identidade,
o amor tão raro.
Olha por cima, maldiz o agouro.
Era o arrimo, o remo, o rumo…
Não mais seria o velho prumo.
E foi, pisando a dor, o abandono,
a terra de pranto molhada,
a essência de si, ceifada.
Cegou-lhe o brilho falso da vida,
o cansaço de noites mal dormidas.
De palco em palco absorveu aplausos.
Sentiu-se rei. Foi sua própria lei.
Não contou com os bastidores,
as histórias verdadeiras,
risos parcos, dores embusteiras.
Sucesso é armadilha sorrateira.
Precisou voltar.
Algo o impelia, o conduzia.
Talvez aquela voz da consciência
que quebra o gelo, a resistência…
Postou-se diante da morte,
(realidade até então nunca vivida),
chorou o pranto verdadeiro,
acenou o adeus derradeiro
e combalido, olhar a esmo,
sentiu que jamais seria o mesmo.
Carmen Lúcia
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