Já é quase madrugada,
e o meu corpo já cansado,
em minha boca o gosto amargo
da bebida, do cigarro
e do sexo hostil remunerado.
Companhias nunca ausentes
neste mundo tão doente
onde a dor, a saudade
e a perversa realidade
tiram o sono dos discretos homens de bem.
Hoje a chuva beijou o meu rosto,
inuptos são os lábios da natureza,
e em meu peito a única certeza
de te amar em absoluto segredo,
de sofrer por antecipação,
ominando sua comunhão,
esperando uma única solução
para findar com essa paixão.
Onde vivem os astros de seus sonhos?
Qual estrela na imensidão do universo
consegue sequestrar sua atenção?
E eu, contentando-me somente,
todavia tão contente,
quando me coloco em meio
ao seu perdido olhar e
as flechas de suas retinas
transferem a mim a doce ilusão
de por segundos de atenção
tocar quiçá seu coração.
Oh, dias de cão!
Como é triste a realidade
se comparada aos devaneios noturnos,
ao delírio musical,
onde o mundo se refaz,
onde reina a utopia,
mas não tarda vem o dia,
transformando em heresia
a mais triste forma de alegria.

 

Renato Alves
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