A estrada a qual me guiava a ti era infinita...

O abalo sísmico que nos separou, implacável, também...

Minh'alma atônita estagnou-se e nunca mais foi além

De paixões ínfimas e curtas, de uma vontade frágil, ainda que bonita.

 

Transpus desertos, areias, rochedos e a íngreme terra

Para alcançá-la em meu ideal. Abandonaste-me colérica...

Fiquei a sete palmos: figura esquálida e cadavérica:

Eviscerado como o soldado que é fuzilado em meio a guerra!

 

E meu amor por ti forjaria cavernas e altíssimas montanhas!

Tu eras a estátua divina, a única e última musa

Que minha idolatria ousou amar... A vida, porém, nos recusa

Juntos e teus trilhos tomaram direção oposta às minhas entranhas!

 

E esta dor que nunca se foi e em meu núcleo se petrifica?

O anjo do pó paira feito fardo a me esfarelar como poeira

E vou correndo para te alcançar, contra a rápida esteira

A qual me afasta cada vez mais de ti e a solidão me reivindica...

 

Que artesão criou tal amor em pedras esculpido,

Para que eu admirasse e cobiçasse sem que o pudesse ter?

Condenas-me à desilusão e a um constante morrer

Agora que não mais a tenho, agora que estou nas trevas perdido!

 

Meu espírito balança e treme como se estivesse em um terremoto.

Por que nosso amor sofreu tão formidável rachadura?

O que decretou tanto sentimento à cova úmida e escura?

O que me faz estar com tantas e me sentir tão remoto?!

 

Estou, hoje, como um molde de lama tão liliputiano e mole...

Tu estás marmórea, fria e distante, feito um anjo...

Eu não pude superar-te e a angústia estranha esbanjo,

Quando relembro da história roído em gole após gole...

 

E, entretanto, por mais que eu lamente, não terei mais teu colo.

Amores que foram e não são mais, são gélidas rochas...

Vivendo em ti quando tu não vives em mim, tu debochas

Daquele que sem futuro já pisou em seu derradeiro solo...