15 de Novembro
"o parlamento no Império era uma escola de estadistas,
na república uma praça de negócios" – Rui Barbosa
Deodoro todo nos trinques /
Bate na porta de Dão Pedro Segundo./
“- Seu imperadô, dê o fora / que nós queremos
tomar conta desta bugiganga. / Mande vir os músicos.” – Murilo Mendes
 
 
Nesta data destacamos
O valor que se proclama
Da República cantamos!
E se a pátria se ama
Ao Brasil nós declaramos
A vitória desta trama
Não há quem ora duvide
Da importância da lide!
 
Porém, objetando aqui
Venho nesta hora enfim
Provocar, dizer a ti,
Que o cenário se assim
Se mostra não é o que li,
Outro sentido há sim!
E nesse belo feriado
O que há de ser louvado?
 
O conceito de república
Se mostra muito moderno
Mas desde que se fez pública
Não evoluiu o seu caderno,
É o tal mote da fé pública,
E assim se mantém eterno...
Sai eleito entre reeleito,
Os mesmos nos mesmos pleitos...
 
A cara do candidato
É um pastiche, uma máscara,
Ao marqueteiro comprado,
Que esconde mais que nas caras
As rugas, também seu fado,
E o vil não se desmascara...
Faz milagres e promessas
Diz de seu feitos e peças...
 
A ilusão que se cria ao povo
De que ele é que elege
O melhor que fará o novo!
Que ao bem público protege!
Mas quando se quebra o ovo
Em que se pôs, eis o herege!
A face oculta em conluios,
E ao tesouro o debulho!
 
Hitler: eleito na Alemanha
Stalin foi pelo partido,
Tito alçou em artimanhas,
Fidel depôs combalido
Ditador e foi sua sanha
Ser ditador assumido!
Aqui Getúlio mandou
E até o congresso fechou!
 
Depois veio novo regime
Ditadura militar,
Em que a eleição sublime,
Indireta e fabular,
À América não se anime,
Lá também o declarar
Presidente é indireta
Eleição! Tramas secretas!
 
A eleição presidencial
É uma grande negociata
Milhões de reais ao final
Viram papéis da rua à mata!
Showmício para a geral
Horas de TV: cascata!
Cada um o mais honesto!
Até Deus sofre indigesto!
 
Ninguém ousa falar
No assunto da monarquia!
Modo dito a caducar!
Mas uma olhadela ao guia
Das nações no IDH
E se verá a fidalguia
Dos reinos entre as nações
No topo dos campeões!
 
Noruega de Haroldo V.
Austrália - Isabel II,
Suécia de Carlos! Minto?
O Canadá também, no Mundo
Da Commonwealth um Jacinto!
E Margarida II
Reina lá na Dinamarca,
No Japão Akihito marca!
 
A Bélgica de Felipe
O Luxemburgo do Duque
A Holanda, se certifique,
Reina Guilherme sem truques!
E a Espanha, que despique!
Restaurou a monarquia
Salazar ninguém queria!
 
E que for à Inglaterra
No intuito republicano
De mostrar àquela terra
Vantagens do soberano
Modo de governo humano
Cairá na piada, pois erra,
Lá é a Rainha na paz ou guerra!
 
O regime de reino e impérios
Evoluiu da decadência
Absoluta em vitupérios
Para a magnificência
Constitucional...Sério
Poder na real consciência
Dum parlamento estadista
Num governo monarquista!
 
Um rei custa pouco, menos
Que uma eleição a presidente!
Cada mandato é um veneno
E se aposenta insistente!
Seus ministros de somenos
Não se julgam! Persistentes!
O sucessor logo desfaz
O que o outro fez assaz!
 
E cá na nossa cultura,
Temos o rei na cabeça,
O Rei do Futebol fura
A bola em mil gols! Conheça!
Da Juventude conjura
O Rei Roberto! Não esqueça
Da tal rainha dos baixinhos
Do rei da pinga e do vinho!
 
Por cá quem quer só pôr briga,
Se diz logo da pessoa
Que tem o rei na barriga,
E quem quer ver mais à toa
E quer a todos que o siga
Por descaminhos à loa,
É mais realista que o rei
E outras coisas cantarei...
 
Passou a noite como um rei,
Se diz em terra de cego
Quem tem um olho é rei
A majestade não nego
Se dita a quem já foi rei...
Rei morto, rei posto eu prego!
Tantas são as expressões
O rei está nos corações!
 
Que se diz do presidente?
Se de banca eleitoral
Que passa um dia descontente,
E se de clube social,
De time, vai comumente
À falência é o mais geral!
E no povo geralmente
Não se sonha presidente!
 
E no mito religioso
Do nosso mundo cristão,
Lúcifer quis poderoso
Se eleger com sua legião
Mas foi seu golpe danoso
E seu mandato foi em vão
O reino dos céus viveu
Eterno ao reinado em Deus!
 
Termino aqui minha loa,
Mostrando como o dia 15
É uma data meio que à tôa,
Se comemora e se finge
Que a república é boa!...
Mas a ilusão atinge
(Em) verdade se comemora
(A) saudade ao rei que foi embora!