A mulher do cortiço

 
 
A mulher do cortiço
sambava como ninguém
só arrumava enguiço
porque era exigente demais.
 Seus pretendentes, ela tratava com desdém.
Em qualquer enredo
tirava de letra só no gingado
mas teve que parar muito cedo
por causa de um amor mal fadado.
Amava o samba, só pro samba, se entregava,
e quando adentrava no salão
deixava o povo ouriçado e só dançava sozinha,
endoidava os homens com o seu requebrado.
tinha a pele macia, uma cor de canela,
seus cabelos trançados faziam dela uma rainha.
Numa noite de sexta feira a mulher do cortiço
fez um reboliço ao chegar à gafieira,
um homem faceiro a tirou pra dançar,
recusou o galanteio e disse ao homem que não.
O povo desesperado ficou sem saber o que fazer;
caído ali no chão aquele corpo tão belo
foi exposto ao flagelo por aquele homem sem coração.  
 
Obs.  Fiz este poema em homenagem póstuma à todas
as mulheres que mesmo “protegidas” pela lei (Maria da penha)
são violentadas e mortas pelos seu “companheiros”
 
J.A.Botacini.
 



 

Jose Aparecido Botacini
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