Conforme os anos passam, as mulheres vão ficando não apenas mais velhas, mas também mais livres, mais loucas e mais inteligentes. A maturidade feminina aciona um artefato complexo que vai liberando potenciais de forma gradual e dinâmica. Isso inclui a habilidade de reler o passado, até torná-lo palatável (ou até insignificante), e contemplar o futuro com mansidão e mistério no olhar, por se estar enamorada do Mistério em si.
A capacidade de apreciação aumenta: um simples copo d'água pode ter um efeito apoteótico. Aprende-se a saborear os instantes, os tons e os silêncios. Sim, apenas a mulher madura reconhece que há vários deles.
Garotas se preocupam com coisas ínfimas, gastam energia e paciência com ciscos. A mulher madura os sopra e segue em frente, resoluta. Se eu tivesse podido viajar para o futuro para aconselhar a mim mesma, quanta coisa ruim teria evitado! Quanta cegueira dissolvida!
Mas como tudo na vida, há exceções: garotas que são sabidas bem antes do primeiro fio de cabelo branco; e velhas que não aprenderam nada. Acontece. Estas se entregam aos queixumes e à preguiça, vivem teimando com os médicos e aposentando os olhos porque não se resignam à ideia de usar óculos.
É claro que o corpo despenca, enruga e acumula gordura. A questão é: isso não afeta as mulheres verdadeiramente maduras como elas pensavam que afetaria. Continuam a se cuidar, a fazer exercícios, não para perseguir a aparência perfeita, seduzir e agradar pessoas, mas para privilegiar a saúde e o movimento. Chega um tempo em que caminhar ereta e confiante é uma conquista, e as mulheres têm de domar suas limitações para viverem de forma independente e ativa.
Curiosamente, equilibrar-se nessa “corda bamba” não as faz infeliz, antes aconchega suas almas com o calor de se ter vivido e de se querer viver. Ainda. Mais um dia, mais um ano.
Ter medo da morte é prosaico, previsível, assunto amplamente discutido. Ninguém se constrange em admitir. Mas e o medo da vida? A maioria esmagadora das pessoas o tem, mas uma espécie de pacto de silêncio não permite o debate. É tabu. A boa notícia é que a velhice bem conduzida vai desbastando esses medos, tanto o da morte, quanto o da vida.
Não é curioso que garotas, com seus corpos rijos, olhos de lince e reflexos 'tinindo' sintam mais medo de enfrentar os dias do que as mulheres maduras? É verdade que a vida é um ser selvagem, sem bons modos ou sutileza, mas se as moças prestassem atenção nas mulheres maduras, talvez aprendessem como lidar melhor com essa criatura primitiva.
Mulheres maduras têm muito a ensinar às garotas, pois já desceram ao subterrâneo de si mesmas, percorreram os caminhos…
Toda vez que vejo uma garota linda “surtando” por causa de um quilo a mais, uma unha quebrada ou uma sobrancelha desigual, sorrio de lado. Se ela viver o suficiente, terá sua chance de provar o sabor acre-doce da maturidade. Saberá o significado de amar para além das aparências, a si mesma e aos outros, para quando o coração se elevar com o peso desse amor, valorizar e aguçar todos os sentidos para mergulhar, com tudo, nessa aventura.

Lucilla Guedes
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