Aurora.

O sol desponta atrás dos montes.

De minha janela observo o horizonte.

Intensa vermelhidão cobre os céus.

Maravilhosa paisagem do amanhecer.

Debruo-me e fico em êxtase

A contemplar o mavioso dia que surge.

Fina e fria brisa lambe meu rosto.

Meus cabelos se esvoaçam, felizes…

Longos minutos em comunhão

Com a natureza.

É domingo,

Logo não me apresso

Em abandonar tão exuberante requinte.

 

Permito-me entrar em alfa

E meus pensamentos flutuam,

Misturam-se as nuvens ainda cinzentas.

Minha mente está alheia,

A consciência liberta para dialogar

Com o meu intelecto…

Meu raciocínio busca o prazer

E a inconsciência, ébria, não decifra

Os hieróglifos do dia.

 

Platônicos instantes que trazem

A paz e o conforto de saber-se lúcido

Perante as inconveniências

Da vida moderna.

Com o declinar das horas,

A memória encontra espaço

Para confabular com os

Problemas do mundo.

 

Ah! Mundo imundo!

Não consigo evitar lágrimas

Que, repentinamente,

Banham minha face…

Relembro o catecismo.

Doces reminiscências

Contrastam com a quietude

Do cenário…

Ligo as semânticas de solidariedade

E fraternidade num só conjunto

De ideias. Ah! Mundo perverso!

 

Quantas desigualdades!

Quanta ostentação!

Quanta luxúria!

Tudo isso de um lado…

Do outro… fome, sede, humilhação!

 

O homem foi criado

Para viver em harmonia

Com o seu semelhante.

Mas… O que se vê?

Egoísmo. Inveja. Orgulho. Indecência!

Tantos com muito e muito…

Doutros com o nada, nada…

 

Esta é a fotografia da torpe realidade,

Todavia não é algo de hoje,

Coisa que atravessa décadas, séculos,

Dois milênios!

Até quando ficará oculta a vergonha?

Até quando as mazelas do orbe

Serão os miasmas que as populações

Terão de engolir?

Até quando poderemos chamar

Tudo isto de vida?

 

Não é vida. É sobrevida. Sobrevivência!

O homem é predador da sua espécie!

Guerras. Genocídios. Terrorismos!

Competição bélica. Competição nuclear!

Desamparo aos que buscam abrigo…

Sutilmente o planeta se afunda

Num imenso vazio

Donde a morte a todos espera.

De braços abertos!

 

Poluição ambiental.

Poluição astral.

Buracos e bueiros de ozônio.

Derretimento de gelo.

Águas que avançam.

Outras que morrem…

Extinção de animais!

 

Na verdade, o que se chama mundo

Tornou-se alegoria, fantasia

Que os artistas insistem

Em recriar...Sim, recriar,

Pois no início era mundo… E hoje?

Apenas uma tela de vagas lembranças…

 

As vicissitudes assinam o fim.

A maldade campeia

Em todos os níveis.

Crianças treinadas para matar…

Idosos sacrificados

Porque não servem mais.

Onde fica o valor da experiência?

Debaixo do solo,

Porquanto só os novos ideais

Têm valores. Retrocesso!

 

Sexo clandestino.

Multiplicar deixou de ser censo.

Importam os prazeres,

O cio degenerado.

A prostituição. Comércio!

 

Educação? Certamente é adereço

Dos afortunados.

O conhecimento é limitado,

Justo para que não se entendam

Os desmandos dos poderosos

E, com isto,

Cresce a ambição desenfreada.

Não há contentamento

Com o que se tem…

Sempre se quer mais e mais…

 

Drogas.

Maior peçonha da humanidade.

Este é o “antídoto”

Que se criou

A fim de que o Apocalipse

Chegue antes do tempo.

 

Esperança.

Talvez aí resida

A única possibilidade

Dos que ainda creem na

Redenção.

O amor está enfermo,

Não morto.

E, quando ele ressurgir,

Finalmente todos poderão

Expressar

Da boca para dentro:

Eu te amo!

 

 

DE Ivan de Oliveira Melo

 

 

 

Ivan de Oliveira Melo
© Todos os direitos reservados