Já não consigo inferir se sou ruína ou glória
E me sinto nulo ao ponto de sentir vergonha...
Quantos mundos criei?
E criei-os para que fossem aniquilados.
Mas quem sou eu para construir universos,
Se não sou deus e sequer creio que exista algum?
A verdade é que sempre estive sozinho, espiritualmente sozinho.
Por espírito, não me refiro a crenças, apenas solidão mental
De quem não se adapta às regras torpes da realidade:
Que impõe padrões de certo e errado.
Que aponta o mal, mas que não faz o bem.
Que nos força a existir conformados com a humilhação...
Sim, humilhação de ser o que a realidade nos força.
Não sou mais eu e nunca o fui realmente.
Meu comportamento tão regrado, tão sociável e simpático,
Contrasta com uma natureza selvagem, caótica
E de perversão absoluta que contenho como se contém um animal.
Vou caminhando sem identidade e sabendo que nunca a terei...
Estou louco para uma filosofia irremediável.
Pensamento único e que causa horror e estranheza aos outros,
Mas que não me incomoda realmente.
Ninguém é livre na vida.
E o ser um escravo foi-me tão humilhante,
Que não consigo ser feliz em meu íntimo...
E quem poderia sê-lo, aliás?
Uma vontade tremenda de mergulhar no nada
E ser engolido para um olvido aconchegante.
O que a realidade me reserva,
A não ser a mágoa de saber que nunca existi como queria?
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