Desconcertante
Acabei de receber uma visita importante. Um amigo que não quis que eu registrasse o seu nome. Uma figura destituída de vaidade. Que delícia! Foram duas horas de conversas desconcertantes. No final, chegamos à conclusão, que Jesus desconcertava todo mundo com atitudes inusitadas. Imagina... Entrar em Jerusalém em cima de um jumentinho, enquanto todos o esperavam no “Cavalo Branco de Napoleão.” 
Caso Jesus viesse à Santa Maria Madalena, desfilaria pela Rua Barão dirigindo o TL verde do Gersinho que é o mais próximo do jumentinho da época. Isso porque ele era destituído de vaidades. 
E como não tinha vaidade, não pensava igual a todo mundo, por isso, escolheu homens desconcertantes, rudes, pescadores ignorantes para conduzir o Cristianismo. Até ladrão tinha no colégio apostólico. Jesus estava dando uma chance a ele, mas ele achou que Jesus não valia a pena e o vendeu por trinta moedas de prata. 
Tem gente que só pensa em dinheiro. 
Jesus foi o maior dos antropólogos. Relativizou dentro da cultura judaica, o que era uma coisa difícil, e tudo na mais perfeita diplomacia, exceto o dia em que chicoteou os vendedores que estavam fazendo da Casa do Pai dele, “casa de negócios”. 
Olha o dinheiro aí de novo.
A única vez que Jesus se desconcertou foi nesse incidente. E nesse caso, não teve tolerância, saiu da linha mesmo, surtou! 
E toma chibatada!
Ele deveria aparecer de novo, tem um grupo aí, precisando daquelas chicotadas. Não sei como não aprendem, as Escrituras são tão óbvias. Não se pode vender a salvação, ela é de graça: “Pela graça sois salvos, por meio da fé e isto não vem de vós é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie.” Escrituras Sagradas – Bíblia. 
Surtar! Esta palavra agora está na moda. Há um surto de surtos à solta. Até nisso tem ensinamento. Surtar, vez por outra, é normal. É bom chutar o pau da barraca, sair do sério, abrir o verbo, mandar todo mundo às favas. 
Estou até vendo, na mente é claro, aquele monte de vendedores, cambistas, com os olhos arregalados, dinheiro voando para tudo quanto é lado... E Ele lá, com aquele chicote, sozinho, enfrentando a máfia da religião. 
E toma chibatada! AH! Essa é a parte da Bíblia que eu mais gosto.
Olha... O que deve ter tido de gente levando prejuízo! É bem provável que tenham encomendado uma surra daquelas... Mas Ele, sempre dava um jeitinho de “sair pela direita”.
Confesso que tem coisas que eu não entendo no Mestre, mas respeito. Não me conformo dele ter permitido a degola de João Batista. Sei que João, também “perdia a cabeça”, se desconcertava com gente graúda, o que era perigoso! 
Minha opinião, é que Jesus deveria ter surtado só mais uma vez, umazinha só indo até Herodes, “aquela raposa velha”, e lhe dado umas boas lambadas.
O Lázaro, que já estava morto há quatro dias, ele resolveu ressuscitar; João, que estava prestes, agora literalmente, a perder a cabeça para uma bandeja, ele deixou morrer. É difícil entender isso!
Como se tenta explicar tudo, dizem, que João era Elias, aquele que foi transladado; subiu ao céu “numa Ferrari de Fogo” e depois voltou para batizar no Rio Jordão. 
Então, ele era um “morto que não morreu”. Foi degolado por Herodes e reapareceu no Getsêmani. Mistérios!
O desconcertante me atrai. Não consigo mais ver o desconcertante como desagradável ou ruim. Depois que reli por tantas vezes O Menino do Dedo Verde, ando desconfiada até da minha sombra, que anda enfileirada atrás de mim. 
Ando apaixonada até pelo “Seu” Madruga e também por todos aqueles que não foram como todo mundo, uniformes ou certinhos demais. Jesus Cristo, Gandhi, Dom Quixote, Luther King, Nelson Mandela, Joana d’ Arc, Tistu, O Pequeno Príncipe... 
Gente boa! Não usaram grandes recursos materiais para mudar o mundo, apenas o corpo e a mente. 
O problema é que quando aparece alguém diferente, de boa vontade, o povo confunde com vaidade, e acaba enquadrando o diferente no grupo dos normais. Insistem em idéias pré-fabricadas e normas pré-estabelecidas. Desconsideram a possibilidade de existir em cada dez dedos, um polegar que seja verde. 
Por Selma Nardacci


Selma Nardacci dos Reis
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