DECOMPOSIÇÃO
I
Rasga, inclemente, dura pele em mil rugas
Abrindo espaço tênue entre tantas verrugas
Dilacera a carne cansada sem verter sangue
Desfiando até tornar fiapo o tecido exangue
II
Denuncia a uricemia em gotas lancinantes
Saindo de olhos cansados e lacrimejantes
Apodrece, insidioso, o artelho hipoxêmico
Putrefazendo sem ver, pâncreas glicêmico
III
Amolenta, com achincalho, o órgão do mijo
Desnudando sem pudor, orgulho outrora rijo
Esvanece em desarranjo conteúdo entérico
Deixando aos poucos semblante cadavérico
IV
Entope coronária para o iminente infarto
Inundando de gorduras vaso já tão farto
Necrosa, sem piedade, a morada do amor
Encerrando n´alma todo vasto esplendor
V
Infiltra, agressivo, as patas do caranguejo
Desfazendo a matéria em horrendo latejo
Decompõe massa cinzenta logrando existir
Impedindo também a capacidade de sentir
Complemento (por estrofe):
I- A carne nem sempre faz da pele sua irmã
II- O corpo com o tempo estraga como maçã
III- Na natureza ninguém permanece igual titã
IV- A alma para o corpo é agora barregã
V- A busca lúcida da memória é tentativa vã
OBS: Uma forma de compreender CIORAN
Marco Antônio Abreu Florentino
Com esse poema, faço uma homenagem ao que considero o maior de todos os poetas brasileiros... o paraibano Augusto dos Anjos.
https://youtu.be/LKxqqA8hDt4
(My Way - Elvis Presley)
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