"Quem me dera beber da água do poço que está junto à porta de Belém!" ( I Crônicas 11:17)

Por que Davi jogou a água no chão?

 

Este verso, separado de seu contexto não causa nenhum impacto. Mostra apenas o sedento desejo de alguém em beber uma água, que no momento parecia impossível.
Quem expressou esse ardente desejo foi Davi, homem escolhido por Deus, entre os filhos de Jessé, para reinar sobre Israel. 
Apesar de suas dificuldades, foi considerado como “homem segundo o coração de Deus”, e, quando desejou beber da água de Belém, encontrava-se fora do arraial, que naquele momento, estava ocupado por filisteus, antigos inimigos de seu povo.
Creio que o foco do desejo não estava na água, mas no anseio da vitória sobre o inimigo que fustigava o seu povo e lhe tirava a paz.
Três homens acompanhavam Davi no momento que ele suspirou: “Quem me dera beber água do poço que está à porta de Belém!” 
Ao ouvirem as palavras de Davi e o seu desejo genuíno, os três homens romperam pelo acampamento filisteu para buscarem a água que Davi tanto desejava.
Foi uma atitude corajosa, pois arriscaram suas vidas para satisfazer um desejo que poderia ser até interpretado como capricho. No entanto, fica provado mais a frente que não era capricho, pois quando os homens entregam a água, Davi fica pasmado, não bebe, pois segundo sua percepção, tal água simbolizava o sangue daqueles homens, que arriscaram suas vidas.
Davi pega a água e oferece a Deus.
Bonito gesto desse homem que tinha o coração de Deus. Mas não é sobre ele que repousa a minha reflexão agora. Gostaria de dedicar esse texto a todos aqueles que se inspiram no comportamento dos três homens valentes que acompanharam Davi e que surpreendentemente, realizaram o seu desejo. Homens que não tem os seus nomes registrados na Bíblia, conhecidos apenas como valentes. Homens que não mediram esforços, que colocaram suas vidas em risco para agradarem ao rei Davi.
Ainda existem pessoas assim em nossa sociedade, pessoas que estão sempre buscando formas de surpreender outros com gestos inusitados.
Lembro que uma vizinha nossa disse certa vez que gostaria tanto de comer bolinho de chuva. Dona Guiomar, minha mãe, ao escutar aquilo, foi para casa e preparou-lhe os bolinhos. A vizinha ficou surpresa com tamanho gesto e sempre faz referência ao episódio quando nos encontramos.
Dona Guiomar foi uma “valente de Davi”. Pois, sabia surpreender, encantar, cativar e agradar a todos a sua volta. Talvez nem conhecesse a história dos três homens valentes, mas a necessidade dos outros era a sua motivação. Não consigo me lembrar a quantidade de vezes que a generosidade dessa mulher me alcançou. Ela deixou sua marca na vida das pessoas.
“Depois da morte segue-se o juízo”, mas isso não impede que eu deseje para minha “valente de Davi” o melhor no Reino dos Céus. Que ela esteja em um bom lugar, desfrutando de bolinhos de chuva inefáveis na presença do Filho de Deus, o maior Valente dos filhos de Israel. Pois entregou sua vida em holocausto, como Água viva de sacrifício inestimável, para que o véu do santuário fosse rasgado de cima para baixo, para que tivéssemos acesso direto a Deus.
Por Selma Nardacci

Selma Nardacci dos Reis
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