Minha alma esteve a observar a escuridão por tanto tempo

Que acabou por se esquecer de como é a luz...

As sombras que me observam em retorno pesam como uma cruz

E divago, conversando com este abismo, este contratempo...

 

Esta intimidade com a morte, com o imenso terror

O qual ela produz nos homens, me fascina.

Mesmo que a aceitemos, ela causa um pânico, adrenalina;

Um sentimento devorante capaz de engolir o próprio amor.

 

Sim, a morte é, talvez, a escuridão perpétua e absoluta.

Há algo para nos guiar então? Quem o sabe um brilho?

O mistério do que haverá é como um trem fora do trilho:

Tombará terreno abaixo por mais que tenha força bruta!

 

E esta é a nossa natureza covarde. Nossa eterna batalha.

Não possuímos uma causa para viver, mas nos apegamos à vida.

Proseamos com o abismo sem conhecer o seu furor homicida

O qual empilha corpos e almas e os dilacera com sua navalha...

 

Mas para não ficarmos no escuro eterno, pouco antes do fim

Enxergamos um clarão. São os fogos fátuos a nos encaminhar

Às trevas do esquecimento, para nos embalar

No sono da eternidade como que embriagados por uma dose de gim...