O velho, o sapo e a lagoa
Fim de tarde e o velho contemplava a lagoa
Acomodado sobre antigo madeiro
O velho matutava, tecia conjecturas:
-Vida de sapo não é assim tão boa
Analisava a feiura, a rotina singular
do que faz a noite a hora preferida
Vitima indefesa da mais negra magia
Jeito de ir e vir e de se alimentar
Ia mais longe o velho, se quando adormecido,
sonharia o sapo, terá ele, pensava, a regalia?
Ou seu tempo de sono é simples apagar,
Um tempo de descanso e corpo entorpecido?
Será que ele não sonha em transe delirante
Uma linda virgem de lábios bem vermelhos
O tomando nos braços, aos beijos, desejosa,
Torna-lo um príncipe, gentil e fascinante?
E foi alargando os campos do pensar:
-Se o sapo for beijado pela linda donzela
pode se transformar numa linda figura
ou é só fantasia para engavelar ?
É um fato provável ou maré de incerteza?
Se é premissa vera eu, por pura analogia,
vou sair por ai, a beijar pererecas
Sabe-se lá se uma se transmude em princesa
Riu intimamente do seu mais louco sonho
A brisa mansa e fresca o velho açoitou
Depressa levantando e ajeitando a roupa
Em intímo juízo considerou tristonho
Que faria eu com donzela prendada?
Nadinha pensou e rumou para casa
Indo mergulhar seus dotes filosóficos
Numa grande terrina de coalhada
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