Toda vez que tentei me encaretar,
Não me senti eu mesmo,
Mas outro que me dirige a esmo
Ocupando meu lugar.
 
Toda vez que ia pro escritório
Sentia uma puta depressão;
O ápice da desilusão
Por não ir ao reino pessoal mas ao cartório.
 
Cansei de ser essa puta cara mascarado,
De terno, gravata, barba feita e cabelo penteado
Escondendo verdadeiro maluco que sempre fui.
Cansei de ser esse cara encaretado, 
De pasta, processos e processados,
Para ser aquilo que meu meu amor não usufrui.
 
Cansei de ser plantação abostada 
De sementes regadas falsamente,
Que gerarão geração de frutos podres
Que propagarão tais ideais irremediavelmente. 
 

Me sentia um merda naquela mentira
De não ser quem quero ser,
Só porque a sociedade condena 
Aqueles que uma grande vida maluca vier exercer. 

 

Por isso renunciei
Toda aquela normalidade,
E assinei comigo mesmo minha liberdade:
De viver sob minhas próprias leis.

 
Agora vivo nu, barbudo e descabelado
Arrancando as páginas da lei para enrolar baseado;
Fumus boni iuris! A fumaça do bom direito,
Para lavrar meu Alvará de Maluco,
Da liberdade de ser eu mesmo - o tempo inteiro.
 
 
 
 

César Dabus
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