Está tudo bem com vocês?

 Está tudo bem com vocês?
Nunca fui com tanta raiva para um cemitério.
Tomei conhecimento do suicídio de uma jovem de aproximadamente dezenove anos, uma de minhas alunas.
Fiquei pensando: aonde foi que falhei? Sim porque quando um jovem se mata, é porque toda a sociedade falhou.
Falhou a Igreja, que muitas vezes, coloca para os jovens um padrão de moralidade tão alto que eles não têm como suportar.
Falhou a escola, que ensina tantas coisas inúteis e não prioriza o verdadeiro sentido da vida. Provas e mais provas; concursos e mais concursos; treinamentos e mais treinamentos... Equações que nunca serão usadas, conhecimentos que para nada servem.
Alunos estão saindo das escolas, mal formados. Treinados para concursos e reprovados diante das vicissitudes da vida.
Precisamos pensar melhor os parâmetros educacionais. Educar um pouco mais pela emoção. Ensinar que tudo nesta vida tem solução e que a morte não pode ser uma das alternativas para se solucionar um problema. Contra  ela devemos lutar, para que não se instale precocemente e covardemente nos corações.
Quanto aos que afirmam, categoricamente, que todo suicida vai para o inferno, eu refuto! Ninguém tem o direito de afirmar quem vai para lá. Jovens que ainda estão passando pelo processo de construção da personalidade, podem se sentir confusos, tristes, desalentados, com sintomas de depressão. Doença que por vezes passa despercebida e quando não tratada arrebata vidas.
“Todo pecado será perdoado.”
Deus, na sua infinita bondade e misericórdia, antes do último suspiro, enquanto o corpo recebe as punhaladas, providencia, soberanamente, o perdão e a paz almejada.
“Quem não tem pecado que atire a primeira pedra.”
Por isso, ao invés de julgarmos, fiquemos mais atentos ao comportamento dos jovens que tanto precisam de amor, atenção e muito diálogo.
Confesso que posso ter falhado enquanto professora, por não ter detectado a tristeza que se escondia no rosto daquela jovem... Não quero falhar mais. A partir de hoje, comprometo-me a olhar nos olhos dos meus alunos e perguntar:
- Está tudo bem com vocês?
Selma Nardacci – Escrito em 28 de maio de 2011.