Visita inesperada...

Foi naquele momento em que o corpo relaxa, em que os olhos fechados repousam, e que o sono profundo nos toma, que meu pai falou comigo.
Parece que ele adivinhou que eu sentia sua falta. E apesar de ter partido para o outro plano há quase treze anos, eu nunca havia sentido tanta falta dele quanto nesse momento da minha vida.
Ele me disse com uma voz tão serena:
- Filho não tema os problemas que a vida lhe apresenta. Não se deixe envenenar pelas pessoas que fingem querer seu bem. Respeite-as, mas não divulgue tudo o que lhe rodeia. Saiba que você não está sozinho.
A voz do meu pai estava tão suave que lembrava um pai colocando um filho para dormir. De tão sereno, quase não consegui falar, mas consegui. Então eu disse: - Pai que saudade de você! Está tão difícil aqui. Tenho passado por tantos problemas, tantas dificuldades. Me sinto perdido aqui.
Então ele me respondeu sem pestanejar:
- Você conseguirá vencer esses problemas filho. Você terá a força que for necessária para conseguir. Não existe mal nesse mundo que seja eterno. E você carrega dentro de ti um coração cheio de amor. Transborde-o.
Eu nunca havia me sentido tão leve quanto naquele momento. Foi inevitável não sentir as lágrimas escorrerem pelo rosto. Daí tive mais força e pude perguntar: - Pai, por que demorou tanto para falar comigo?
- Porque você não estava preparado e não precisava antes de mim. Disse meu pai calmamente. E continuou: - Por você ter orado com o coração puro que pude me comunicar com você. A tua fé me trouxe aqui.
Eu senti tanta paz dentro de mim. Algo que jamais havia sentido. Ter visto meu pai envolto por uma luz clara, alimentou minha fé, minha força de vontade para seguir.
Incrivelmente meu espírito se desprendeu do meu corpo e pude dar um abraço em meu pai. Depois de quase treze anos longe, ainda era o mesmo abraço que me acalmava quando criança. Junto com o pranto que escorria, uma alegria infinita me enchia a alma. A minha vida inteira passou diante dos meus olhos naquele minuto.
Enquanto dava aquele abraço em meu pai, toda a saudade que eu sentia até então, se esvaiu. Então olhei nos olhos dele e disse:
- Pai, perdão por ter errado com você, quando na verdade, você só queria me corrigir. Perdão por não ter dado todos os abraços que você merecia e eu não dei. Perdão por não ter lhe dado orgulho em algum momento, por não ter demonstrado a cada dia que te amava. Pois, eu amava muito, e não sabia repassar. Perdoa-me se fracassei com a mãe, e se não lhe dei as respostas que você esperava. Perdão por não levá-lo ao médico assim que ficou doente. Embora eu acreditasse que era só um mal estar. E mesmo não sabendo dirigir direito naquela época eu poderia ter chamado um táxi. Perdoa por não ter sido de repente, o filho que você sonhou. Perdão se te visitei pouco no hospital, pois eu quis dar prioridade à família do Rio. Sempre acreditei que você fosse voltar para casa, mas você não voltou.
Enfim, perdão por não ter feito mais por você. Eu sempre te amei, e sempre amarei e espero ser um dia para os meus filhos, metade do pai que você foi. Eu te amo demais.
Foi nesse momento que meu pai disse:
- Agora preciso voltar, lembre-se que estarei sempre com você. E que tudo que aconteceu era para ter acontecido. Cuide bem de sua mãe, seus irmãos e dessa mulher linda que você ama e que será a mãe de seus filhos. E, ao contrário do que você pensa, eu sinto um orgulho imenso de você. Te amo demais meu filho.

 
Daí o Max latiu e eu acordei...

Carlos Eduardo Fajardo
© Todos os direitos reservados