O INQUILINO DOS SONHOS

                 O DUELO
 
No terreiro de fulano Audencio
O pau d’água chefe de casa
Havia um cupinzeiro vazio
Que em forno de lenha fora transformado
 
Fazendo broa quentinha, tapioca pra Lola levada
Porem já em alta tardinha, deitado no calor das brasas
O exercito sai de mancinho, cupinzeiro pra dentro de casa.
 
Já vesgo pela bebida, sonhando meio que acordado
Sua cama desmancha aos pouquinhos
Cupinzeiro fazendo desgraça.
 
O criado também ta brocado
Feito em pó pelo bicho danado
Só sobraram as ferrugens da sala
Espingarda de sal carregada.
 
O cupim era muito guloso
Comia toda mobília do tolo
Até mesmo as calçolas de Audencio
Que pelado fugia correndo.
 
Foi então que tudo começou, quando sua cachaça passou
Acordado do sono indolente, seu compadre pra briga chamou
Com sua cartucheira nas costas, o sertão ele atravessou.
 
O compadre de audencio era o preto
 Chocolate de muitos desejos
Trovador das modinhas nas noites
Sua sanfona escondia segredos.
 
Era muito chegado de casa
A comadre foi sua namorada
Eles tinham um caso antigo
Que ficou muito mal resolvido.
 
Ela sempre fazia questão
De dançar na festa do baião
Uma moda com o preto apertado
Que deixava Audencio irado.
 
 
Muita gente já desconfiava
Que o caçula era filho da farra
Era o preto quando criança
No trazer de suas lembranças
 
Quando o sol no sertão se escondia
Um assobio ao vento se ouvia:
- Eu começo esse refrão
-Batendo forte no pandeiro
-Pra dizer a ti compadre
-Vai cantar em outro terreiro.
 
-Minha sanfona é dengosa
-Me acompanha nessa prosa
-Pra deixar o meu recado
-Vosmecê nunca foi galo.
 
-Meu gogo é afiado
-Diferente do seu papo
-Minha espora mete medo
-Vai capar os teus segredos.
 
 
-Tenho dó da Joaninha
-Ela sempre quis ser minha
-E esquecer tanto desgosto
-Pois tu sempre foste um frouxo.
 
-Meu jardim já ta florido
-Muitos filhos eu reguei
-Diferente do compadre
-Que perdeu a sua fez.
 
-É ai que tu se engana
-O caçula da Joana
-Tem a cor de chocolate
-E já chora com a sanfona.
 
Quando Audencio o acorde ouviu
Seu pandeiro explodiu
Deixando o povo assustado
Pois o homem era bravo.
 
Muito vesgo de nascença
Via tudo embaçado
Mas agora estava cego
Pra vingar àquele agravo.
 
Só um tiro atravessou
A sanfona que tocou
No velório da Joana
Que caída ali ficou.
 
Já o Preto assustado
Com o destino inesperado
Morre ao lado da comadre
Pela bala que sobrou.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
             O BAU ESCONDIDO
 
Clandestina a luz é vermelha
De programa a dona do salão
Cafetina guardava segredos
Emplumada Lola do sertão
 
Foi chegando amuadinha
De barriga na jardineira
Ganhou a vida se vendendo
Cafetina sertaneja
 
Quando soube da noticia
Muito se entristeceu
-Mala pronta to de volta
-Com meu filho Zé Dirceu
 
Ele era bem fresquinho
De sapato amarelinho
 
Rebolava feito cobra
Chacoalhando o sapatinho
 
Um barulho no escuro
Da gaiola que dormia
A gatinha da felina
Fim da pena ela cumpria
 
Era tudo tão normal
Tudo muito casual
Insensível e criminosa
A apatia dessa ladra
Só fez dela um chacal
 
Pensamento de vingança
 Muito sangue das lembranças
 
Era quase endeusada
Regougando a turba em massa
Da matilha em direção
Na mente só rebelião
 
Corre um papo de cadeia
Que um baú ela escondeu
Enterrando no terreiro
Do fulano que morreu
 
Naquela época antiga
O defunto era sepultado no seu lar
Foi cavando que se viu
Uma peça milenar
 
Um baú bem enterrado
Um mistério revelado
De uma vida criminosa
Muitos anos de um passado
 
Em sorrisos de emoção
Um tesouro escondido
Pensamentos tão perdidos
Muitos sonhos desvendados
De grandes decepções
 
Bem no fundo uma peça;
-Ratoeira que desgraça
-Isso aqui não faz sentido
-Felina sempre foi sarcástica
 
A gatinha entendeu
Bem depois que ela cresceu
Todo aquele aparato
Pra pegar tinhoso rato
 
-Que é isso escondido
-Se explique sem chilique
Gritou Lola decepcionada
Querendo toda a grana roubada
 
-Não é nada de tão novo
-asqueroso camundongo tinhoso
-com seu queijo a passar
 
-Ainda me lembro bem cedo
-No despertar dos desejos
-Da tão pequena criança
 
-O vai e vem roedor
-Roubando sonhos de amor
-De uma doce esperança
 
-E no despertar instigado
 
-Instinto insano aflorado
-Transformei-me na ladra que sou
 
-Em meio a uma madrugada
-Filhinha fique acordada
-Mamãe no quarto entrou
 
-Pra afugentar teus fantasmas
-E abrandar esse carma
-A ratoeira de dou
 
-Mas eu gostava daquilo, sentia até calafrio
-minha mente ele roubou, ficando só um vazio
-Ao enterrar o martírio, armadilha pro tentador
 
Acusadora a serpente, de língua dobre e ardente
Inflama a situação; - mamãe sempre dizia,
-Que tu não escaparias das grades daquela prisão.
-E agora ta arrependida, chorando as suas feridas
-Sem mascara de lenço na mão.
 
-Pois saiba que eu também já sonhei
 -Com uma serpente emplumada
 
-Que um ovo em minha mente botou
-Fisgando minha alma excitada
-Chocando daquela malvada
-Devaneios lascivos de amor.
 
-Um dia mamãe assustada
-Ouvindo o chocalho dentro de casa
-Um carvalho na porta cravou
 
-E pra liberar o antídoto
-Pro veneno da cobra maldito
-Ao Dono da madeira clamou:
 
-Ó senhor que a cruz carregou
-Aplacando todo mal e a dor
-Cura todas as nossas feridas
-Pelo teu sangue mui redentor
 
-Mas eu nunca gostei de clamar
-Na boemia escolhi ficar
-To de volta pra vida noturna
- Prefiro esse ovo sempre chocar
 
 
O rapaz de sapato amarelo, vendo toda situação
Carabina de sal carregou e perdido saiu pro sertão
Sendo herdeiro de um lampião, os legados de um avô beberão
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

alex
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